sexta-feira, 29 de maio de 2020

Increado



Repousa ainda no inefável,
Nas águas primordiais onde 
Tudo o que não pode ser
Compreendido cintila como 
Cacos de estrelas que se partem,
Uma essência quase intangível.

Habita em mim ainda um ponto
De luz, que quase sempre emerge
Sob avatares de cheiros e sons e toques...
Quase como um exercício de imaginação
Que busca, num ato mágico, materializar
E "crear" como um Deus Menor seria capaz.

Por vezes essa luz torna-se não mais 
Que uma chama bruxuleante de uma 
Vela que insiste em não apagar-se, 
Apesar do vento que a açoita constantemente.

Por vezes essa luz é praticamente o Sol,
Resplandecendo neste pequeno e desimportante
Universo caótico e melancólico...
Mas o Sol também se põe.

O Deus Menor continua em busca 
Da alquimia do universo, quase um
Trabalho de Sísífo na tentativa de
Materializar o que lhe é caro.




quarta-feira, 17 de abril de 2019

LX - Pequeno Sorriso II - Ethos de uma Alma Invertida



Deste Pequeno Sorriso
Viveu meu coração
Por um longo tempo.

Pequeno Sorriso,
Sorriso Afável,
Afável Olhar,
Olhar Terno.

Meu coração cessou
E meu olhar atinou
Que aquele Pequeno Sorriso
Já não era mais meu.

Meu corpo ruborizou
Quando o Pequeno Sorriso
Converteu-se em volúpia.
Desejei intensamente... desejei
O que não poderia ter.

O meu corpo tornou-se
Do mais frio azul.

Прощай!


sábado, 15 de setembro de 2018

LIX - Tânatos ou Hipnos? - Ethos de uma Alma Invertida

Resultado de imagem para tânatos e hipnos


Amarrei minhas asas
Para que não pudesse voar;
Costurei minha boca para
Que não pudesse falar;
Fechei os olhos para não ver;
Tapei os ouvidos para não ouvir.

Imerso em mim mesmo,
Descobri as sombras sempre
Presentes nas almas humanas...
A mão do Diabo na obra de Deus.

Deveria ter atirado-me nas
Chamas dançantes de uma pira,
Mas o amor pela minha sombra
E o medo do renascimento me
Impediram de realizar tal proeza.

Ainda estou amarrado como
Estava antes...talvez até
Em um sono profundo,
Mas um döppel estranhamente
Positivo parece ser meu álibi.

Talvez eu já esteja morto...


* Imagem retirada de https://pt.wikipedia.org/wiki/Hipnos *

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

LVIII - Melancolia II - Ethos de uma Alma Invertida

Whispering of the melancholy I by andrekosslick






Tão bela quanto a flor
Que desabrocha esplendorosa,
É vê-la definhar lentamente
Ao pôr-do-Sol alaranjado.


E assim, talvez, seja a vida:
Uma beleza que se esvai
Pouco a pouco, como uma
Flor esplendorosa que murcha
Dia após dia, noite após noite.

Se há algum elixir que
Perpetue o esplendor, eu
Não o almejo em tempo algum.
Prefiro assistir, melancolicamente,
A beleza e o esplendor esvanecendo
E decompondo-se até que nada reste.

Que os anjos caiam magnifcamente
Dos céus e que se inicie outra guerra
Celestial, mas não moverei um músculo
Até que todo este mundo morra!


* Imagem retirada de https://www.deviantart.com/andrekosslick/art/Whispering-of-the-melancholy-I-130888751 *

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

LVII - Memento Mori - Ethos de uma Alma Invertida

Resultado de imagem para memento mori imagens

Eu aceito seu manto
Negro e beijo sua face
Em ossos amarelados.

Nada mais aqui me
Conforta ou me apraz...
Nem mesmo outros corpos.

Ah! Eu derramo gotas
Rubras sobre este Jardim
Selvagem e irrigo suas
Flores viçosas e coloridas.

E o vento, letárgico,
Que balança preguiçosamente
A relva esmeralda,
É o perfume, o alento,
O torpor que me leva a Deus.

Eu, vestido com a pompa e
Luxo, almejo seu manto
Negro e maltrapilho.
Eu, de boca rubra e quente,
Beijo a sua boca sem lábios
E almejo o frio de seu corpo

* Imagem retirada de https://wallpaper.mob.com.de/image/artfoto-natyurmort-obekty-skelety-smert-22746.html *

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

LVI - Angélique II - Ethos de uma Alma Invertida


Maldito seja o Deus, que
Esculpiu o homem em barro
E os anjos em porcelana e
Atirou-os na Terra!

Que atroz este Deus que
Permite ao reles mortal
Afogar-se na beleza dos Anjos
E atentar contra a sua pureza

Ao inferno com a Lei
Mosaica e com a Torá!
Se há anjos na terra,
Que eu os consuma até
Que deles reste só o pó...

Que eu os idolatre
E adore, fitando-os
Até que meus olhos,
Ressequidos, cerrem eternamente.

Ao inferno com a
Misericórdia divina,
Pois perdão e condecendência
Maiores vem dos doces
Olhos e lábios dos anjos.

E sob sua doçura eu
Me dobro, beijando-lhe
Os pés e jurando amor
Desmedido e incontido.

Ao anjo, que levo em
Modesto Andor,
Atiro-me ao inferno,
Por corromper-te,
Sem temor.

Ao fogo do inferno:
- o qual consumir-me-à-
Que derreta a minha carne
Pois a minha alma já
Se consumiu quando
Ansiei por Anjos!

*  Imagem http://crepusclo.deviantart.com/art/Androgynous-Angel-303976184 *

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

LV - Arraste-me para o Inferno - Ethos de uma Alma Invertida



Não sabes que não se
Olha diretamente ao demônio,
Criatura de olhos brilhantes?

Não sabes que o demônio
Tem poderes de tomar as
Almas dos desavisados,
Criatura de rosto emoldurado?

Não sabes que o demônio
É atiçado pela retidão e
Que ama a ousadia velada,
Criatura de sorriso discreto?

Não sabes que agora o
Demônio irá te perseguir
E tomar-lhe para si,
Criatura sob o Véu?

Não sabes que o demônio
Alisara seu corpo magro,
Até que sua alma se erga,
Criatura de Beleza Desmedida?

Não sabes que ao olhar
Diretamente para o demônio
E sorrir-lhe discretamente,
Selou um contrato para
Que ele lhe possua?


* Imagem retirada de https://www.deviantart.com/z-pico/art/Lucifer-updated-470493821 *

LIV - Bela Donzela e a Sensibilidade - Ethos de uma Alma Invertida



Sua sensibilidade,
Bela Donzela, me comove...
Mentira minha! Ironia, deboche...

Entendo sua dor.
Sei que encontra-se
Em desfavor e à
Despeito de todo
O seu dissabor,
Digo-lhe que não há
Luta em que não haja dor.

Deveria caçoar da
Discrepância entre o
Seu rosto e o que há
Entre suas coxas?
Não... mas poderia fazê-lo.

Pois o humor é engraçado
Quando disparado para todo
O lado, menos quando por
Ele tu és tragado.

Aprenda a rir-se de si,
Bela Donzela, pois assim
O escárnio alheio perde a graça.
Ria de si mesmo, antes
Que outrem o faça!


* Imagem retirada de https://br.pinterest.com/pin/522839837975325884/ *

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

LIII - Adieu - Ethos de uma Alma Invertida



Com as mãos sujas
Eu olho seu retrato...
A única beleza em
Meu quarto mal-decorado.

Os seus olhos parecem
Reluzir em azul, mesmo
Nesta foto em preto e branco
Que o tempo apaga lentamente.

As cordas que nos ataram
Por tão poucas horas,
São as mesmas que
Decoram meu pescoço.

Essas mãos, tingidas de
Branco viscoso, lhe prestam
A última homenagem...
A este corpo cianótico de
Meios rosados como flor.

Pétalas singelas que eu
Esmaguei, anel precioso
Que eu afoitamente quebrei.
Quebrei também a mim mesmo
E a minha vida que se vai à jato...
Em um jato...

Adieu!

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

LII - A Possessão de Maria - Ethos de uma Alma Invertida

To Devil by lamringo



O demônio que possuiu
Teu corpo não ansiava
Tua imaculada alma viva.

O demônio que sussurrou
Ofidicamente em teus ouvidos,
Em lugar da habitual blasfêmia,
Dizia-lhe versos de amor na
Antiga língua dos anjos.

O demônio que deitou
Sobre teu corpo de seios pequenos,
Pernas bem feitas e monte lis,
Abriu mão do seu céu de
Inocência e pureza para
Devorar a mortalidade humana.

O demônio, que doeu-se
Pelo seu apetite infernal,
Deixou uma rosa negra
Sobre o monte desnudo
E em sigilos antigos escreveu:

"Bebi do Vinho de Aluqah
  E o Yod penetrou a terra.
  Desta profana união,
  Brotará uma legião.

  Ao destino desta alma
  Maculada, à quem eu
  Entreguei a Serpente Inflamada,
  Deixo esta rosa oscura,
  Cuja beleza taciturna
  É vistosa somente aos
  Olhos inumanos.

  Deixo-te esta rosa negra
  Beleza única como tu,
  Para que pereça junto
  À tua carne e para que
  De mim nunca te esqueças."



* Imagem http://lamringo.deviantart.com/art/To-Devil-697948898 *