quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Vênus Escura

Escavei meu Jardim Selvagem.
Abri mil túmulos - inclusive o meu-
Simplesmente para inalar o passado
E constatar que nada daquilo me era
Mais tão familiar como fora uma vez.

A estrela matutina brilhou no céu
Desanuviado e ofuscou as duas luas
Tão amantes e amadas por mim.
Algo estalou em minha mente e
Meus sentidos e minha 2ª pálpebra cerrou-se.

Ouvi um canto silencioso que parecia
Emergir das águas frias e mortas.
Um perfume selvagem como o meu
Jardim despertou-me e diante de
Meus olhos resplandecia uma Vênus Escura,
Nascida do fogo que crepitou sem
Combustível aparente a alimentá-lo.

Ela gargalhou docemente e dançou
Ao som de uma música que só ela ouvia.
"Venha! Venha! O fogo lhe chama, não ouves?"

Lancei-me à ela e àquele fogo alaranjado.
Queimei e cai ao chão, abraçado aos
Mortos  do meu Jardim Selvagem.
Beijei a todos eles e a seus ossos
Impregnados pelo tempo que morreu.

Ali deixei-me ficar, aos olhos da Vênus Escura
Que perpetuou sua dança ofídica e fez ressoar
Sua gargalhada indubitavelmente misteriosa.


* Imagem retirada de http://www.gutenberg.org/files/16477/16477-h/300dpi/image27.jpg *

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