sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Guerreiro, O Menino e O Corvo

(Conto de um Aprendiz)

Era escuro, estrelado, nevoado. Não se via um palmo na frente do nariz naquele amplo cenário misterioso. O diálogo tão esperado finalmente se inicia.

-Mas você lembra como chegou aqui? Sabe a razão de estar aqui?
-Não, eu não me lembro. Não sei do que está falando.
-Qual é a primeira coisa que lembra? Qualquer coisa.
-Eu me lembro de um pássaro. Um pássaro grande - O Menino estende os braços para os lados e faz uma simulação de voo.
Uma troca de olhares silenciosa traz à mente do Guerreiro um clarão de memórias passadas.
-Será este O Corvo, pobre criança? – O Guerreiro analisa as manchas de sangue na roupa da criança
-É ele. Ele me arrepia com extrema escuridão. Ele é capaz de despir-me dos meus sonhos como ninguém. Ele levou consigo uma parte de mim. O corvo não levou a mim, ainda. O pôr-do-sol só me traz lembranças de quando uma batalha travada sempre valia a prata. Não foi oque hoje presenciamos neste campo devastado.
O Guerreiro se inclina com confiança, arranca um pedaço dos trapos queimados que usa e protege a ferida no peito da pobre criança. Diz a ele:
-Ele também arrancou meu coração. Mas todo meu fôlego está preso, junto a mim. Guardo comigo as chamas de uma guerra sem vencedores. A noite termina. Venha, meu caro. Tome deste fôlego, busque a realidade, busque a verdade no profundo dos seus pensamentos.

//
‘’Feche seus olhos e procure pelo transparecer, Desaparecer
Se desprenda do corvo que um dia arrancou seu coração
Esqueça e limpe-se do sangue de suas mais terríveis memórias
Mas de duas coisas eu peço com misericórdia que não se livre.
A clareza da lucidez e as queimaduras da experiência.’’
//

Quatro tons de cor resplandecem no céu, chamando a atenção do guerreiro:
Azul-vida;
Amarelo-inocência;
Vermelho-amor-próprio
E o Verde-esperança.

Mas só uma cor, lá no fundo do azul do céu profundo, chamou a atenção do menino. A união perfeita, a junção perfeita: o branco-espírito.
Tomou consigo aquela luz. O seu olhar, à beira mar, parecia acompanhar a cor do mar. Ele tem de ir embora. A noite cai em cor e se desfaz por completa. Como nunca antes visto, escurece. Aquela luz o chama, mas ao mesmo tempo incomoda seus olhos, que se fecham. O Pobre Menino é levado por tal luz para um infinito mar de expectativas e de renovação.

O espírito do aprendiz nunca esteve tão completo.


E foi naquele instante que a criança em mim nasceu novamente.

O Aprendiz
Meu Blog, Sepphia: http://sepphia.blogspot.com/

2 comentários:

Mostre sua alma!