quinta-feira, 17 de março de 2011

Le Quattro Stagioni


Dias e noites se passaram desde que Maxim, a seu próprio modo, amou Antinko. Durante os dias, Maxim dormia e era atormentado pela visão de seu ataque colérico. Durante as noites, quando despertava, Maxim simplesmente olhava para a sua insana obra e somente chorava de cabeça baixa em posição fetal.

- Antinko...meu frágil e amado Antinko.. o que foi que eu lhe fiz!- Naquele momento, Antinko pareceu sorrir maleficamente para Maxim, como se quisesse fazê-lo sofrer mais - Você está rindo de mim, seu verme?!

O pescoço dilacerado de Antinko se regenera lentamente pois o ferimento fora demais até para um vampiro. Porém, o remorso e a paciência de Maxim, juntamente com o sangue vampírico, o poderoso sangue vampírico do jovem demônio pode fazer da morte uma nova vida. O poderoso sangue cura qualquer ferida.

- Não suporto mais vê-lo assim! - Maxim morde a própria língua e faz com que o sangue escorra por ela. - Mais uma vez, meu amor, meu sangue vai fazê-lo voltar à não-vida. Mais uma vez, as trevas em meu sangue vão fazê-lo o meu anjo perfeito e belo... o MEU anjo. Esse sangue imundo o trará de volta para mim, Antinko!

O beijo. O beijo tingido de vermelho. Um vermelho de fúria, de violência, de sangue, de erotismo e de amor. A língua de Maxim penetra na boca sem cor de Antinko, que bebe o fluido com avidez. Imediatamente os músculos e a pele começam a se regenerar velozmente, como se o próprio diabo houvesse feito um milagre negro através do sangue derramado.

- Belo trabalho, Max! - A boca de Antinko endurece e os olhos se revelam furiosos - Como se sente agora? Ainda se sente culpado?

Maxim não consegue falar e as gotas vermelhas brotam de seus olhos. Com uma alegria soturna, Antinko ri e se diverte com aquilo tudo.

- Ora, Max, já passou! Aqui estou eu, SEU Antinko, o seu anjo perfeito. Venha para mim e me ame como sabe fazer muito bem!

Como que hipnotizado, Maxim caminha em direção ao seu anjo recém-recuperado. Os passos leves, arrastados e instáveis ecoam pelas paredes e o sangue irriga do pálido rosto do jovem demônio, fazendo-o parecer quase humano.

- Antinko...meu anjo... - Letargia.
- Venha, Max. Venha e me possua como fez tantas outras vezes. - Nunca a voz de Antinko fora tão sedutora.

Maxim se aproxima e envolve Antinko em um abraço apertado, que deixa o corpo cair nos braços daquele vampiro de mil faces. Maxim o segura na nuca com a mão esquerda e ambos começam a ofegar ferozmente, como se o simples contato de suas peles cor de mármore, fosse a melhor das cópulas.

- Meu anjo da boca perfeita! - o toque dos dedos gelados nos lábios perfeitamente desenhados.
- Um beijo, Max. Um beijo como aquele, com gosto de sangue!

Quando as bocas se encontram e as línguas se tocam, Maxim sente a presa de Antinko rasgar-lhe a língua ao meio. O gosto de sangue preenche ambas as bocas.

- Uma língua bífida para alguém que é uma serpente. - Antinko sorri - Te amo tanto, Max!

Maxim começa a gargalhar, alegre com aquilo tudo. "Você está ficando bom, meu querido, muito bom. Com esta cara de santo, você está se tornando um diabinho". O alto poder regenerativo faz com que a língua de Maxim volte ao normal quase que imediatamente.

- Venha, Max! Vamos caçar e banquetear esta noite!
- Antinko, Antinko... você ficou tão cruel e eu o amo ainda mais por isso. - Maxim segura o rosto do seu amado, mordendo-lhe o lábio inferior, fazendo o sangue escorrer em um filete vermelho.

Saem juntos para se alimentarem e com sua habilidade de caça, não é dificil. Encontram um grupo de 3 pessoas, sendo 2 mulheres lindas e um homem também muito bem alinhado, porém com uma expressão ruim...talvez irritante. Não houve diálogo e os vampiros simplesmente cravam suas presas nos pescoços mortais e frágeis, ignorando completamente a presença do homem. A discrição, tão necessaria, foi esquecida devido ao êxtase por tudo que haviam passado os dois vampiros amantes. O homem simplesmente entrou em estado de choque e não se movia. Como se fossem vampiros recém-criados, sugaram aquelas duas mulheres até que seus corpos murchassem e fossem deixados no chão.

- Merda! Fizemos tudo errado, Antinko! Estava tão feliz por você ainda estar ao meu lado que me esqueci dos cuidados que deveria ter tomado. Exageramos desta vez! E o que vamos fazer com aquele ali? Ele não me serve pra nada.
- A mim também não serve, mas vamos deixá-lo vivo? Você é o artista, o gênio aqui. Pense em algo! - Uma luz sinistra ilumina o rosto de Maxim, que sorri com uma expressão diabólica.
- Você teve uma idéia, não é, Max?
- Claro! Vamos comemorar nosso sangue, nosso amor, nosso ódio, nossas brigas e nossas carícias. Vamos comemorar nossa paradoxal relação! Pegue este homem e venha atrás de mim. Vamos para bem longe...
- Você ainda me assusta.
- Isso é bom - um olhar debochado. Esse infeliz teve o azar de me parecer antipático sem ter dito uma palavra sequer e de ter visto algo que não poderia... ainda que a culpa seja nossa. Mas é a lei natural: o mais forte sobrepuja o mais fraco - uma gargalhada histérica.

Com sua velocidade sobrenatural, percorrem uma grande distância e chegam à uma clareira, em uma mata fechada.

- É aqui, Antinko. Dê um jeito de fazê-lo dormir. Preciso pegar...algumas coisas.
- Apagá-lo? Isso é fácil! - Antinko, com um leve toque dos dedos na têmpora daquele homem, o faz dormir.

Maxim resurge das sombras, carregando dois troncos de arvores, adentra a floresta e, logo a seguir, retorna com mais madeira.

- Lenha? Você está pensando em...
- Fazer uma fogueira? Estou.
- Ficou louco? O fogo irá nos destruir!
- Idiota! Acha que sou demente? Não vou pular no fogo e sequer me aproximarei dele. Vamos só vê-la arder e comemorar da nossa maneira.
- Como um ritual pagão antigo?
- Sim, bem por aí.
- Entendo, mas para que servem as duas toras? Pretende assar um elefante?
- Engraçadinho! Acho que vou arrancar sua língua. Espere e verá! Não foi você quem pediu mais uma das minhas obras?

Uma pira é montada e, sobre ela, uma cruz é feita com as duas toras de madeira.

- Ahh... uma crucificação?! Interessante! Vai pregá-lo?
- Vou amarrá-lo com fios de nylon, só para vê-lo debatendo-se para tentar escapar...mas vou amarrá-lo de cabeça para baixo.
- Vai inverter a cruz?
- Vou.
- Ah....heresia - Antinko sorri. Você realmente pegou esse homem para Cristo!
- Piada infame? - Maxim abre um largo sorriso - Você está ficando melhor a cada minuto!
- Ou você é que está amolecendo! - a ironia personificada.
- Touché! Vamos acender logo essa pira e começar a nossa festa.

A pira e a cruz invertida, com o homem coberto somente em suas partes, se encontra no centro da clareira.

- Max, se você pudesse morrer, certamente iria para o inferno.
- Mas seria maior do que o próprio Diabo. Eu reinaria no inferno!
- Que seja! Enfim, o que você pretende?
- Bom, meu querido Antinko, você sabe que adoro música erudita. Simplesmente me lembrei do velho e bom Vivaldi e suas 4 Estações. Cada estação será um ato: Primavera, Verão, Outono e Inverno.
- Tem cara de obra prima...
- Isso você avaliará depois. Que o show comece! - Ambos se retiram para casa, pois a luz do Sol ameaçava surgir.

Primavera

O homem é banhado em extrato de flores e mel, deixado consciente e exposto aos animais ali presentes. Ursos, grandes felinos e todo o tipo de inseto.
O aroma das flores atrai abelhas, vespas, besouros e borboletas. Aquela nuvem de insetos que invade todas as cavidades do pobre homem o faz começar a se debater para se livrar daquilo tudo. Ah...péssima idéia! As abelhas e vespas se enfurecem e começam a ferí-lo com seus ferrões repletos de toxina.
Erupções envenenadas surgem pelo corpo do homem, marcado pelo rubor provocado pela toxina dos insetos.

Verão:

Maxim arma um incêndio no entorno da pira. "Sinta, por nós, o calor escaldante do Sol do deserto em que Jesus fora tentado. Sinta toda a dor que sentimos quando somos expostos a luz diabólica do Sol!"
Com o seu poder, Maxim faz com que "o Sol do deserto" se mostre. A fumaça intoxicante faz o homem tossir com se os pulmões fossem voar pela boca e o calor do fogo o faz transpirar incessantemente, levando-o à desidratação.

Outono:

A estação seca e o início da morte. O homem definha.

Inverno:

A morte! A pira é acesa pelo poder de Maxim. Os 3 dias precedentes terão o seu ápice: a dança dos vampiros. Como se a composição "As 4 estações" ecoasse em suas mentes, Maxim e Antinko dançam ao redor da pira. Os dois vampiros suicidas por estarem tão perto do fogo e da luz purificadora. A música que ecoa em suas mentes se mistura aos urros viscerais do mortal sendo queimado vivo, às risadas e ao silêncio da noite.

- Max, você é genial!
- Obrigado! Faço tudo por você.

As roupas caem no chão, os corpos pálidos caem entrelaçados e a madeira estala, ardendo em chamas. O calor do fogo não é tão intenso quanto o calor que emana daqueles corpos frios deitados no chão.

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