terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Meu menino



Foi tudo tão rápido.
Me viu, logo, se apaixonou.
Não me lembro se por ser bela ou pelo o que sou.
Foi tão rápido que logo eu estava em seus braços, sentindo seu calor enquanto via a alregria em seu rosto por estar comigo. Andamos alguns minutos e já estávamos em sua casa. Fui apresentada à seus pais como a obra de arte divina. Passei a morar em teu quarto, a ser a sua melhor companheira. Com quem compartilhava a sua alegria, a sua dor...
Mas como tudo sempre muda, fui sendo sem querer esquecida. Dando lugar à estudo, sexo, bebida e amigos sem pudor. Espiava do meu canto você desvirginando mulherzinhas que sempre te perguntavam se eu pertencia a você. Mas, você sempre respondeu: “Essa coisa não é minha. É dos meus pais”.
Largada, esquecida. Mas sempre te amando.
Você foi para o serviço militar duas vezes, dos quais sempre voltou. Sentava em sua cama e me olhava, mas me tocar não tocou.
Foi convocado à guerra. Eu tinha medo, eu sabia! Teu sorriso não mais veria a me fitar com amor.
Me pegou nos braços, depois de anos, me olhou e por fim tocou. De mim saiu tão triste melodia que o meu menino ainda chorou. Partiu. Me deixou em cima de sua cama...
Passadas algumas semanas, escutei sua mãe ao telefone. Meu menino foi descuidado e uma mina o matou. Senti em minha alma a tristeza de uma velha sem amor que morre com a incerteza, sem saber o que lhe restou.
O que sobrou de seu corpo, para sua mãe foi enviado. Meu menino, meu grande homem. Tinha sido destroçado.
Prepararam uma enorme caixa de madeira, aonde seu corpo bem vestido foi depositado. Me tocaram em sua despedida, meu menino, homenageado.
Meu menino, grande homem, companheiro!
Eu queria ir com ele, mas não pude. Voltei ao seu quarto abandonado e, depois de anos, volto a ser tocada pelo seu sangue, uma filha, que nunca conhecer o conheceu mas que tem o dom do meu eterno menino.

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