quarta-feira, 16 de novembro de 2016

III. Pacto - Ethos de uma Alma Invertida



No azul de seus olhos inocentes,
No dourado de seus cabelos reluzentes
Mergulhei profundamente e - maldita
Beleza! - tornei-me impaciente.

Do anseio de tocar-lhe as mãos
E de sua carne comer sobre o chão,
Deixei, por um instante, de ser são.

Clamei por Astaroth que, em
Meu socorro, deixou o mais
Profundo rincão do Inferno
Trajando seu mais belo terno.

Com um sorriso sedutor e
Seu cabelo ruivo engomado,
Sentou-se ao meu lado
E emitiu sons versados:

- Homem ambicioso e pecador,
  Caiu de quatro como um bode
  Hipnotizado e derrotado
  Ansiando deturpado amor.

  Homenzinho ridículo
  Da vara em chamas,
  Dotado de audácia,
  É para ter aquele
  Corpo que me chamas?

- Demônio dos infernos,
  Minh'alma nasceu condenada
  Pelo pecado dos Primeiros-Pais
  E pela dureza do Criador.

  Se minha alma já nasceu
  Como propriedade do inferno,
  Que mal há em ansiar pelo
  Mais belo, enquanto nesta
  Terra sou só mais um interno?

  Que seja à luz de velas
  Ou mesmo no chão frio,
  Permita-me beber o que quero,
  Se possível, entre minhas pernas!

O demônio atendeu meu
Desejo e fez os olhos
Azuis desejarem meu beijo.
Envolvi-os com(o) uma serpente
E disse-me, entre os dentes
"Quero-te em meu meio!"

Vivi ali a glória, ainda
Viva na memória e
Por tornar-me pária e escória,
Em prazeres, no inferno,
Termina a minha história.

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