segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A Criação e o Despertar


“E Deus criou o homem  à sua imagem e semelhança,
  Deu-lhe o mundo e fez do Éden a sua casa.
  Fê-lo reinar sobre todas as criaturas e
  Viu que era bom...”

Assim as coisas começaram no que se chama, atualmente, de Terra. O homem foi feito do pó da terra, banhado em água e esculpido como o barro que era. Esculpido à imagem e semelhança do Criador e Arquiteto do universo. Acima, no céu, reinava o Deus-Vivo  sobre as falanges de anjos e sobre as criaturas na terra.

Muitos dos anjos se regozijaram do que se podia ver da Morada Celestial: um mundo criado a partir da vontade divina, repleto de criaturas magníficas e, apesar da aparente simplicidade,  complexas. Algumas eram belas como os anjos, outras possuíam asas como os anjos e, tantas outras, emitiam belos sons como os anjos.  Javé reinava sobre os anjos; os anjos sobre o homem e o homem sobre a natureza.
No Jardim, o Altíssimo colocou uma árvore com um tronco denso e firme como  um pilar. Cada galho desta árvore gerou um fruto, no total de 10 frutos vistosos e apetitosos. E Deus disse:
- Esta é a Árvore da Vida. Nela há tudo o que lhes é necessário. Ela, assim como a sua existência, homem, nunca cessará!
- Agradeço a sua benevolência, Todo-Poderoso...
- No entanto, há um 11º fruto que está oculto nesta árvore. Coma-o e as sombras cairão em sua alma e em seu coração! Conhecerás a dor, a peste, a tristeza, a fome, a velhice e serão visitados pelo Anjo Ceifador. Sua existência será amaldiçoada, assim como a de seus filhos, dos filhos de seus filhos e assim será por 26.000 luas. Minha lei foi proclamada!
- Ouço e obedeço, Altíssimo! Agradeço por tudo o que nos proporciona, desde o céu azul até o solo fértil. Obrigado, Senhor!

Pois um anjo, aquele que era o mais belo e o mais sábio de todos, sentiu que o Altíssimo estava errado ao amar tanto estas criaturas que vieram da lama. Sentiu que os planos do Arquiteto eram falhos. O Anjo desafiou o Criador e perdeu a batalha. Foi lançado ao abismo, sob os pés daquela criatura que ele mais odiava: o homem.

  
“Eu ousei apontar o erro.  Eu desafiei o Altíssimo,
 Fui banido dos céus,  Lançado no limbo.
 Jurei, por Deus, que faria o Senhor olhar e perceber seu erro.”

Posto que YWHW criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, o Criador deles sentiu orgulho. O erro do Pai Misericordioso foi não perceber que, ao soprar nas narinas daquelas duas esculturas de barro, deu-lhes consciência agregada à vida. E a consciência é uma faca de dois gumes, pois o que pesa na consciência de uns, não pesa na consciência de outros.

“E eu tentei os mortais falhos, dando-lhes o fruto proibido.
  O 11º fruto da Árvore da Vida, ao ser mordido por um mortal,
  Fez  nascer e frutificar, a Árvore da Vida inversa...”

 Eu, outrora Lúcifer, hoje mais conhecido como “O Inimigo”, vi a companheira do Primeiro Homem negar ser montada por ele. Vi a Primeira Mulher, chamada Lilith, desafiar as regras do Criador e por ele ser banida. Ela foi banida por negar se humilhar perante aquele tido como seu consorte e dominante.
Eu, tido como maligno, a acolhi em meu reino e a vi ser transformada- pelo Misericordioso- em um demônio. O seu aspecto, narrado posteriormente como bizarro ou asqueroso, tornou-se meramente sombrio. Entretanto, seu corpo era ainda voluptuoso e chamativo e ela, aquela mortal caída, exalava uma energia convidativa e era insaciável.
Lilith subiu ao paraíso em forma da serpente mitológica e eu, apareci em uma forma humana mas ainda com a aura angelical. O Primeiro Homem, parado em frente à Árvore da Vida, olhando-a com um olhar atento, faiscante. A Serpente subiu pelo tronco e por entre os galhos, chegando próximo ao ouvido do Primeiro Homem e disse-lhe:

- Deseja a liberdade?
- Eu já sou um homem livre sob o amparo do Pai.
- Eu falo da liberdade total. Liberdade para viver, para obter o conhecimento divino...para fazer o que quiser! – a sua língua bífida toca o rosto do Primeiro Homem. Eu, em seguida, apareci em meu corpo mortal mas com a aura e a beleza angelical.
- Esta maçã, Primeiro Homem, é a sua libertação. Deixará de ser um mero cordeiro em seu belo cercado e assumirá o controle total de sua vida. – Lilith assumiu a sua forma humana, com os seios fartos e ancas bem torneadas.
- Prove deste fruto, Primeiro Homem! Eu enfrentei o Pai e agora tenho liberdade. Inclusive para mudar de forma. Não vês como estou bem?! Tenho todo o conhecimento do mundo para lhe dar.

O Primeiro Homem nos olhava, com curiosidade e inocência. Eu mordi do fruto e Lilith mordeu do fruto. Aquela mulher voluptuosa disse, então:
- Prove do fruto, Primeiro Homem. Tome-o de minha boca ou da boca do Portador da Luz! Coma do fruto e desperte para o lado oculto, para as mentiras ditas pelo Arquiteto Manipulador!

O Primeiro Homem tomou o fruto da boca de sua ex consorte e, em seguida, tomou o fruto de minha boca. Eu senti a energia que ele emanava e pude sentir o falo que se erguia lentamente. O Primeiro Homem havia despertado! Eu provei ao Altíssimo que a sua escultura feita do barro era corruptível e imperfeita. Provei que o Arquiteto havia erigido uma obra magnífica, mas falha.

Desde então, muitos outros anjos se uniram a mim e à expressão máxima da feminilidade, Lilith. Ela se tornou o polo feminino doce e agressivo, da mulher indomável como a natureza, brilhante como a Lua e sombria como a alma humana pode ser.  Eu, o portador da Luz, fui transformado em demônio pelas sucessivas narrativas humanas.

Desde que o Primeiro Homem provou do 11ª fruto, Lilith e eu fizemos sucessivas visitas aos homens. Alguns homens me desejaram, algumas mulheres desejaram Lilith, alguns homens nos desejaram a ambos.

Ainda sim, a humanidade cumpriu o mandamento divino: “Crescei e multiplicai-vos!”

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