Um jardim vistoso cercado por um imenso gradil branco com pontas-de-lança douradas. O palácio possuía paredes de um material muito branco, que talvez fosse marfim ou mármore, tal qual o Taj Mahal. Entretanto, havia peças muito coloridas e tapeçarias. Caminhei para o exterior do palácio e cheguei em um dos muitos passadiços daquela edificação.
Em um desses passadiços estava o príncipe, parado, conversando com um homem de meia idade, calvo, que parecia ser o seu tutor tanto para assuntos de mundo como espirituais. Pude inferir que era uma espécie de clérigo pela sua vestimenta distinta porém simples. Após a conversa, o homem começou a andar de cabeça baixa e não a ergueu nem mesmo quando passou por mim. Eu segui meu caminho e parei ao lado do príncipe. O silêncio reinou por alguns instantes...creio que ambos olhávamos o céu azul com poucas nuvens, apoiando-nos sobre a balaustrada da escadaria. A brisa estava fresca, quase reconfortante e os cabelos negros do príncipe esvoaçavam discretamente.Ele desceu lentamente a escadaria ampla e de degraus imensos. Suas roupas brancas faziam-no assemelhar-se a um anjo, apesar de seu caminhar pomposo característico dos nobres.
O jardim estava bem verde, com flores diversas e muitos tipos diferentes de arbustos, árvores e plantas de grande porte. Por entre as árvores e plantas, estava um banco, feito do mesmo material de todo o palácio. Ali sentou-se o príncipe em silêncio, olhando em direção a um lago, mas com o olhar fixo no nada. Sentei-me atrás dele, igualmente calado e por alguns instantes me perdi nas borboletas que voavam. O Sol derramava sua luz, que nos aquecia de forma suave, tal qual um abraço pode fazer em momentos de tristeza.
O príncipe, repentinamente, começou a falar como uma pessoa normal, desprovida de sua nobreza herdada. Ali, comigo, suas vestes brancas pareciam refletir a humildade e pureza...algo virginal...como um resquício de sua infância recém-passada.
- Não entendo!
- O que você não entende? - Interroguei, mas com receio de uma represália pela minha intromissão e por tratá-lo como alguém íntimo.
- Eu não consigo entender por que as coisas são assim...as pessoas, as regras, a vida...meu tutor não soube responder.
- Seu tutor não soube responder ou você é quem não compreendeu?
- Não sei...ambas as coisas...talvez.
- O problema dos grandes mestres é que, muitas das vezes, são incapazes de transmitir o que sabem...seja pelo uso de linguagem rebuscada ou simplesmente por um orgulho desmedido. Muitos deles creem saber e, a bem da verdade, nada sabem.
- Isto é verdade.
- Sei que não sou mestre espiritual ou intelectual e tão pouco sou designado pelo rei para tal, mas acho que posso lhe dar uma resposta. Ela não é verdade absoluta e lhe trará novas perguntas...
- Diga o que pensa!
Conversamos ali por um bom tempo e, conforme eu falava, podia ver as maçãs do
rosto do príncipe se acentuarem. Ele sorria durante aquela nossa conversa.
- E é essa a minha leitura de mundo e da vida, meu príncipe.
- Obrigado! Você conseguiu fazer o que meu tutor não pode fazer!
- Pode ser porque eu falei com sua alma. Acho que ela estava angustiada, não somente a sua mente. Agora, com sua permissão, vou me retirar.
Curvei-me, em sinal de respeito ao príncipe e preparei-me para ir embora. Ele pegou minhas mãos, olhou-me nos olhos e sorriu. Um gesto de gratidão...embora eu não saiba o motivo de seu agradecimento. Deixei o príncipe no jardim, onde ele desenhava as borboletas multi-coloridas.
Que sou eu? Não sei dizer. Como cheguei ao palácio? Não tenho idéia. Qual a minha função dentro daquele lugar? Não tenho a resposta. Por que o príncipe e eu conversamos tão intimamente? Não sabemos. Para onde fui após a conversa? Certamente fui para onde o vento me levou...
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