sábado, 21 de abril de 2012

Tanz der Vampir



Sempre preferi ficar sozinho ou com poucas pessoas. Não sou dado a aglomerações...na realidade eu odeio aglomerações. Aquele bando de pessoas  amontoadas como se fossem uma ninhada de baratas ou uma manada de gnús desesperados em fuga. Entretanto, este mundo moderno possui coisas sa serem exploradas, inclusive aglomerações. Por que perder a chance de viver as facilidades e cores deste século? Maxim, não seja tolo! Mais conhecimento equivale a mais poder e mais inspiração.

Neste século há cabarés, prostíbulos e casas de cortesãs, porém, têm outros nomes e são mais disfarçados...ou mais aceitos do que eram há séculos atrás. Agora chama de boate, rave, strip show... a libertinagem é a mesma mas as pessoas se entorpecem com  várias substâncias além do álcool e usam pouca roupa (até mesmo para os padrões atuais).

Miguel vivia me falando destas coisas e, por curiosidade, resolvi ir a um destes eventos. Certamente encontraria algo que pudesse me divertir ou me alimentar. "As pessoas vão a estes lugares para dançar e beber, Max. Poderíamos ir em um destes lugares qualquer dia desses...o que acha? Só temos que ver um que permitam a minha entrada".

Pois eu senti essa vontade há alguns dias e resolvi ver como são estas "festas". Passei a mão pelos meus cabelos, vesti meus jeans pretos, os tênis de mesma cor e uma camisa fina de algodão preto. Cai bem para o meu corpo porque não esconde a minha silhueta. Banho é algo desnecessário para um vampiro pois não cheiramos mal como humanos...basta sacudir o pó, por assim dizer. Cortei as ruas com grande velocidade e parei dentro do quarto do Miguel.

- Meu querido, banhe-se e vista-se pois hoje vamos a uma boate!
- Você quer mesmo isso? Não sabe nem dançar e quer ir num lugar desses?
- Não se preocupe! Eu me viro. Banhe-se e vista-se imediatamente! - ali mesmo ele se despiu, exibindo seu corpo magro, mas muito bonito e foi se lavar. Em seguida, vestiu-se com jeans clássicos, camisa e tênis verdes. Eu o peguei no colo e cortei as ruas com velocidade, após Miguel me indicar qual a melhor boate da cidade.
De longe eu avistei uma enorme fila do lado de fora. "Maldição! Deveria sair arrancando suas cabeças..."

- Olha o tamanho da fila, Max e eu nem sei se vou conseguir entrar nesse lugar...ainda não tenho 18 anos.
- Esqueceu-se de que está acompanhado de um vampiro com poderes telepáticos, telecinéticos e de pirogênese?

Com um simples olhar, fui galgando lugares como se toda aquela multidão os tivesse cedido de vontade própria - o que não deixa de ser verdade, sob certo aspecto - até alcançarmos o segurança na porta. Ele também não em deu trabalho e finalmente passamos pela porta de vidro fumê. Lá dentro, eu pude observar muitos jovens, bebidas, lasers, flashes, fumaça, luzes de todas as cores, a música alta e quase sempre repetitiva, além de ouvir pessoas oferecendo e aceitando "balas e doces". Havia poucas mesas em volta da pista de dança. Dançavam freneticamente ou com uma sensualidade exacerbada, esfregando-se uns nos outros em cantos escuros e enfumaçados daquele cubículo. Aquele lugar cheirava a álcool, suor e hormônios...e sangue também, mas a náusea que sentia passou com o tempo e aquilo tudo passou a me parecer agradável. Miguel segurou a minha mão e começou a me puxar por todo aquele lugar, como se fôssemos dois exploradores em uma terra nova e estranha.

A música me irritava os ouvidos, pois era uma batida repetitiva e sem harmonia alguma. Até uma multidão em histeria me soava melhor aos ouvidos, mas aquela música...Miguel logo começou a dançar sozinho mesmo, agitado como uma criança ainda mais nova do que ele já era. Eu fiquei somente observando Miguel dançar com suavidade mas extremamente sensual, movimentando o quadril de um lado para o outro e sua blusa curta às vezes revelava sua barriga. A calça de cintura um pouco mais baixa deixava aparecer uma faixa de pele ainda mais branca logo acima da cueca. Algumas pessoas se aproximaram de Miguel, mas ele as repelia, como se elas estivessem doentes...creio que os bêbados o irritavam. Miguel era quase puro, apesar das noites de sexo que tivemos. Ainda que parecesse dançar em transe, por vezes ele abria os olhos como se quisesse certificar-se de que eu o olhava dançar ou que eu ainda estivesse ali.

A fumaça se adensou por um instante e os flashes confundiram um pouco meus olhos, mas ainda via Miguel dançando como se não existisse mais nada no mundo. A música que antes era repetitiva, agora possuía letras, guitarras e um vocalista de voz meio rouca. O som era um rock único e que causava uma sensação diferente...era sensual. Avistei uma mulher morena, de seios empinados, quadris perfeitamente arredondados, seus longos cabelos negros e a boca adornada com um batom avermelhado. Ela dançava sozinha mas de forma muito sensual. Os movimentos eram quase hipnóticos e seus quadris serpenteavam para um lado e para o outro. O vestido curto e justo destacava as curvas de seu corpo, com seus sapatos de salto pequeno fazendo os músculos das pernas ficarem rígidos. Ah ela me parecia tão delicada e tão frágil...tão sensual e tão perigosa ao mesmo tempo, como se ela fosse uma vampira seduzindo um humano. Senti-me desprotegido e encantado por uma fração de segundo.

Com um caminhar que eu posso chamar de "vampírico", me dirigi a ela e sem que eu precisasse dizer uma palavra sequer, ela começou a dançar comigo...ou para mim. Ainda não sei ao certo. Serpenteando de um lado para o outro, de cima para baixo, com suas curvas se esfregando em meu corpo frio, ela parecia a própria serpente do Éden, a própria Lilith. Em certos momentos, pude sentir o bico de seus seios contra o meu peito e ouvia o rufar de seu coração acelerado com toda aquela agitação. Como que por mero reflexo, comecei a seguir seus movimentos, segurando-a pelo quadril e pressionando-a contra o meu corpo. Ela me parecia incansável e, quando ofegava, o cheiro do álcool e da droga penetravam em minhas narinas. Isso não me importava nem um pouco, na realidade. Eu estava adorando tudo aquilo. A mistura de álcool, drogas e hormônios...tudo aquilo me causou uma sensação nova e inexplicável.

Miguel surgiu em meio à toda aquela bagunça de corpos, luzes e fumaça, com uma raiva aparente. Eu podia sentir o cheiro do seu suor, o ritimo descompassado do seu coração, cada vaso se dilatando e o sangue fluindo com ferocidade. Miguel estava lindamente furioso e, por um momento, pareceu ameaçador mesmo naquela figura angelical.

- Por que tá dançando com ela, Max? Eu tô dançando sozinho faz um tempão.
- Danço com ela porque senti vontade, Miguel.
- Maxim, você deveria estar dançando comigo. Vem dançar comigo!
- Não me incomode, garoto! Estou adorando dançar com esta mulher...ela está mais agradável do que você. O corpo dela tem mais curvas e está me dando prazer. O sangue está entorpecido e isso me fascina. Suma e me deixe em paz! - eu o empurrei, jogando-o contra a parede. Ali ele ficou por muito tempo. Continuei dançando com aquela mulher, sentindo sua pulsação acelerada e sua dança erótica. Tudo me excitava bastante naquele ambiente, inclusive os olhares enciumados e odiosos que Miguel nos lançava.Durante quase toda a noite, eu estava agarrado àquela mulher que dançava de olhos fechados e que parecia sentir cada nota da música, transformando-a em movimentos.

O dia parecia se anunciar em pouco tempo e resolvi terminar tudo aquilo de modo muito simples, fugindo do que eu costumo fazer. Chamei Miguel para perto de mim e ele prontamente se aproximou, com lágrimas nos olhos...mas creio que eram de raiva e ciúme. Dei-lhe um beijo na bochecha molhada e suas lágrimas salgadas me agradaram. Pus as mãos em seu rosto e, quase tocando nossos lábios, lhe disse:

- Observe, meu anjinho! Você, provavelmente, não verá isso denovo.

Agarrei a mulher, fazendo com que sua cabeça pendesse para trás e avancei em seu pescoço. O sangue dela estava diferente...quase doce. Eu sentia, de forma leve, os efeitos das drogas mas aquilo somente me fez rir. O êxtase do sangue se misturou à adrenalina e à euforia que haviam sido descarregadas. Pus a mulher em uma cadeira, com a cabeça jogada sobre os braços como se estivesse dormindo. Miguel lançava olhares de terror, de ciúmes pela atenção dada àquela mulher e, estranhamente, de desejo de passar pelo mesmo.



"Miguel, meu querido Miguel, talvez um dia sua beleza seja eternizada...de um jeito ou de outro..."

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