segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

The Storyteller Crow - Lucius Augustus





Muito boa noite, meus amigos que se mantém despertos sob a luz da Lua que jaz lá no alto. Não vim para falar de Lenora e tampouco para atormentar-lhes a alma, a mente ou ainda para atacar alguma carcaça jogada ao chão... pelo menos, não agora. Venho lhes trazer a história de um jovem...incomum.

Lucius Agustus foi abandonado ainda criança nas ruas estreitas de uma cidadela nas regiões fronteiriças dos domínios de Roma. Era uma criança que destoava um pouco dos outros cidadãos por viver nas vielas e por ter cabelos claros e olhos escuros, ao contrário da grande maioria que possuía olhos e cabelos escuros. Os cabelos claros, segundo os estudiosos e alguns populares, se devia provavelmente ao fato de seu pai ser um germânico. As invasões bárbaras haviam se tornado mais frequentes e, bem, um garoto fruto de um bárbaro com uma romana? Ele sempre foi esquecido nas ruas.

Lucius possuia os cabelos dourados e pele clara como os germânicos, o nariz e o queixo angulares, bem como os olhos escuros dos ítalos. Mas a sua principal característica não era a sua beleza física, mas sim a sua astúcia que impressionava. Lucius nunca pode ser educado devidamente porém ele sempre procurava ficar perto de intelectuais gregos e de outros sábios que visitavam aquele império.

Augustus, apesar de não saber escrever, desenhava e argumentava muito bem justamente por sempre estar às voltas com algum sábio que visitasse a região. Tudo foi aprendido - e aperfeiçoado - pelo simples poder da observação. E foi através de seus desenhos de deuses, senadores, césares e até mesmo civis mais abastados que Augustus conseguia seu dinheiro para comer e trocar suas vestes vez ou outra.

Pois bem, meus caros, o Império Romano estava em seu auge de domínio militar e de produção culutural, visto que abrigava várias etnias dentro do mesmo espaço. Dentro daqueles limites, qualquer cidadão do mundo se sentia protegido e os romanos julgavam-se invulneráveis por conseguir dominar muitos povos e repelir os sucessivos ataques dos povos bárbaros.

Certa vez Lucius caminhava pelas vielas quando avistou uma série de homens discutindo a política e a cultura abrigada pelo império. Naquele grupo de homens havia desde ítalos à mouros discutindo fervorosamente.

- Não, não acho que isto seja certo! - dizia um.
- Mas é claro que é certo! Não vê que o império se mantém firme?
- César é representante dos deuses. Ele sabe de tudo e é intocável.
- Creio que o sucesso do império seja devido aos vários povos distintos aqui residentes e...
- Com licença, digníssimos. - Augustus interrompeu a discução, educadamente - Posso juntar-me à vocês mesmo que seja só para ouví-los?
- Você ainda é uma criança! Vá embora daqui! - disse um senhor calvo, olhando com desdém.
- Ora, deixe-o, Petrus! - disse o mouro - Ele poderá aprender conosco e assim, com novas mentes se formando, é que o império se manterá firme. Não concordam, meus amigos?
- Sim, sim, é fato - um deles disse.
- Obrigado! Prometo não importuná-los!
- Quantos anos tem, meu jovem?
- Tenho 14 anos, senhor.
- Ah, tão jovem! Mas é bom que se interesse pelo conhecimento em vez de percorrer essas ruas à esmo.
- Senhor, não tenho condições de ser educado devidamente. O que me resta é aprender com os senhores, fontes peregrinantes de conhecimento. É melhor pouco conhecimento do que conhecimento algum... estou errado?
- hahahahaah - riu o mouro - Não, não está! Parece-me um jovem muito inteligente. Estávamos discutindo sobre as fronteiras do império. Como lhe parece esta expansão irrefreável que os césares vêm promovendo?

Lucius Augustus olhava com os olhos faiscantes mas baixou a cabeça e ficou mudo. Ergueu a cabeça, respirou fundo, balbuciou algo, mas nada disse.

- Ora, garoto! Diga logo o que pensa! Não me faça crer que é um idiota qualquer! - disse o velho calvo.
- Eu... eu...
- Diga, jovem.... qual o seu nome?
- Augustus. Lucius Agustus, senhor.
- Então diga, Lucius Augustus! Diga o que pensa!
- Senhores, lhes digo que sou muito jovem e que nada sei portanto, com toda a humildade expressarei minha opinião. Pois creio que este império é magnânimo de fato, no entanto, as fronteiras se tornam frágeis em um grande território.
- Mas que bobagem! - disse um grego que ali estava - O exército romano é o mais forte de todos!
- Sinto discordar, mas isso não é o mais importante. Ao norte é muito frio e muito montanhoso, com invernos rigorosos, pouca disponibilidade de provimentos e, para se chegar lá, há uma demanda muito grande de tempo. Os soldados que aqui vivem, não resistiriam ao clima de temperatura tão baixa e, justamente por isso, o império contrata mercenários daquela região.
- Então está tudo resolvido! A fronteira está protegida.
- Porém um mercenário obedece a que pagá-lo mais. Além disso, ao norte há muitas tribos bárbaras e que já estão acostumadas com o relevo e o clima. Elas são mais bem preparadas para sobreviver e lutar naquela área.
- Sim... isso faz sentido - disse o mouro.
- Pois então lhes digo que, a fronteira ao norte, é frágil. Nós temos os galeses que repelem todas as tentativas de domínio, temos os germânicos tentando invadir constantemente nosso império...

A conversa durou horas e o mouro, o mais sensato de todos, ficou impressionado com o raciocínio lógico e bem construído do jovem Lucius, decidindo levá-lo à presença dos senadores e do grande César. No senado romano, Agustus expôs suas idéias com toda a clareza e, de certa forma, com a pureza da criança que ainda era. Muitos dos senadores debocharam, outros se impressionaram com a inteligência que carregava aquele garoto. César não teve reação alguma, apenas ouvindo tudo com atenção. O mouro, então, decidiu que deixaria por escrito todas as idéias do jovem Lucius Augustus, reproduzindo fidedignamente tudo o que ele dizia, sem alterar uma letra sequer.

"Sou apenas um infante aos olhos da maioria, não fui educado como os abastados do império, mas procurei sempre estar em meio aos sábios abundantes nestas ruas. Desta forma, peço que ao menos leiam o que aqui deixo escrito através de meu tutor.


O império corre perigo com esta expansão desenfreada. As fronteiras, cada vez mais longínquas, não são mais guardadas pelas centúrias, pois não há pessoas o suficiente para pegar em armas e não há tempo para treiná-las. Todos os dias, bárbaros oriundos de todo o mundo tentam atacar nossa amada roma, enfraquecendo nosso exército, que tem milhares e milhares léguas a serem vigiadas. Todos os dias muitos soldados morrem pelas mãos dos bárbaros, que são tão brutais na guerra e não tem escrúpulos.


O nosso amado césar contrata mercenários para assumir postos de vigília e para ajudar a repelir as invasões sucessivas. No entanto, até quando isto será possível? Gradativamente a legião de romanos diminui e os mercenários assumem seus lugares em troca de dinheiro. O império aumenta os impostos sobre os cidadãos que, em pouco tempo, não mais terão condições de pagá-los. Todo o dinheiro está voltado à contratação de estrangeiros para nos proteger. E quando o império não mais puder pagar mercenários? E se, algum dia, um inimigo tão rico quanto Roma decidir pagar mais aos mercenários?


A expansão deve cessar e deve-se priorizar o fortalecimento das fronteiras. Talvez dividindo Roma em regiões regidas por homens submissos ao césar, para que assim cada região cuide mais adequadamente de uma parte das fronteiras. Mas isto não cabe a mim, um jovem sem conhecimentos vastos, decidir. Isto nada mais é do que um pergaminho com as idéias de um infante que anda com sábios e que, com eles, busca aprender.


Peço perdão pela ousadia e pela petulância de discordar com um césar."

O mouro levou o pergaminho ao senado romano, provocando uma discussão calorosa. Alguns senadores não se interessaram, outros ouviram e caçoaram, alguns concordaram e outros simplesmente não aceitavam acatar "ordens" de um garoto que vivia na rua. Decidiu-se que se seguiria a expansão do império, a contratação de mercenários e que os bárbaros jamais poderiam invadir Roma. O sábio mouro, então, decidiu levar o jovem Lucius Augustus para sua cidade natal nas imediações da Turquia. Lá Lucius foi educado e se tornou um homem de notoriedade. Em dois anos, aos 16 anos de idade, Lucius ficou conhecido como "A Luz de Allah" devido à sua ajuda no império otomano e às suas idéias brilhantes.

Minhas crianças, devo mencionar que após a partida do Mouro e de Lucius, em menos de 8 Luas o império romano caiu. O pergaminho, jogado no chão do senado, foi pisoteado durante as batalhas e acabou se perdendo. Ouçam a todos, minhas crianças, sem se importarem de qual boca saem as palavras ou de onde vem o orador! Ouçam a todos porque, por mais ignorante que possa parecer uma pessoa, ela sempre tem algum conhecimento a compartilhar.




*Postagem dedicada à uma pessoa que me surpreendeu positivamente*

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