Requiem

Eu não me permito olhar em seus olhos.
Não é que eles não me agradem, mas é que eu não quero que você veja os meus olhos.
Meus olhos castanhos já perderam a pureza que, um dia, os habitou.
Eles agora delatam o meu interior -as janelas estão abertas.
Não me permito erguer o olhar para você. Nunca mais!

Meus lábios não mais se abrirão para exalar um suspiro ou pronunciar uma palavra sequer.
Eles já estão vermelhos demais e demasiado impuros para que eu possa lhe dirigir a palavra...
Eles me traem ao dizer a verdade sobre o que habita em mim.

Gostaria de poder ensurdecer meus ouvidos, para que eu não pudesse ouvir uma palavra sua.
Elas me provocam um caos interno. Mesmo desejando e crendo em uma verdade, sempre me
Parecem mentiras reconfortantes, daquelas que se conta a um moribundo:
"Você vai se recuperar logo!" - e ele se vai...para o céu ou para o inferno.

Eu me permitiria somente ter as minhas mãos nas suas. Com elas não haveria traição e nem desrespeito
Como meus olhos fariam. Elas passeariam pelo seu rosto enquanto minhas lágrimas cairiam
Em meu peito, que ficaria a ponto de se romper em um grito.
Minhas mãos me permitiram a sinceridade ao dizer o que quero e seria um mentiroso bestial, pois você não saberia de nada.
Talvez...e só talvez, nesta hora eu olharia em seus olhos e permitiria que olhasse os meus,
Somente para ver a pureza que eles teriam contidos - em sua cor castanha - novamente por um breve momento.
Eu me permitiria recostar minha cabeça cansada e confusa no seu ombro, somente para chorar
As minhas confusões, as minhas verdades, as minhas mentiras, as minhas traições, o meu ódio,
O meu amor, o meu desdém, o meu sarcasmo...a minha frágil condição de humano.

Quando puder ler esta carta, saberá que eu me fui e eu...eu saberei que nunca mais
Temerei que você veja a verdade em meus olhos, que jamais sentirá pena ou compaixão.
Que será livre por si só, pois sei da sua força.


Este é o meu epílogo, meu "Don Juan (ironicamente) Triunfante"...

Adieu, mon cher!