terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Beleza da Besta


Maxim, de joelhos, chora pesaroso e culpado por ter bebido até a última gota carmesim do fluido de Ângelo.

- Maldição! Maldição! Criatura maldita eu sou! Acabei com sua vida!

Ângelo ergue-se e os olhos cor-de-rosa brilham vivazmente, como duas pedras de quartzo.

- Que vida, Max? Eu não tinha vida! O máximo que eu me aproximei de uma vida, foi quando me vi em meus poemas e quando você chegou, trazendo a chuva sobre nós.
-Tão doce...tão inocente...você não sabe o que é a vida eterna, Ângelo. Eu sou mau e mesmo assim beirei a loucura por várias vezes, que dirá você que é tão humano.
- A minha humanidade era incerta, inútil, uma farsa. Eu era vazio e de coração seco.
- Seco? Escrevendo tão belas palavras e diz que tem coração seco? Não me apaixonei só pelo seu corpo. Seus poemas nada mais são do que palavras que vem de dentro, meu amado.
- Não importa, Max! Aquilo nada mais era do que um resquício de uma esperança, de que alguém me salvasse do mundo e de mim mesmo...mesmo que eu pagasse um alto preço.
- E eu o salvei? Transformei você em uma criatura das sombras, em um furtivo bebedor de sangue. Você não conseguiria matar, não faz parte de você.
- Talvez eu seja um monstro, mas sou um monstro que é amado como jamais foi, nem por seus próprios genitores...agora sou amado pela criatura mais que já pisou na Terra, um assassino com uma cara de inocente.
- Como pode ser tão bom, Ângelo? A cada gesto de bondade e de amor, eu me sinto pior e mais culpado.
- Pois trate de mudar esse sentimento ou acostume-se com a culpa, Maxim, pois seguirei ao seu lado!
- Se não seguisse, não sei o que eu faria...
- Eu quero esquecer meu passado, pois minha vida começou naquele dia, no parque. Quero esquecer meu nome e a humanidade que, um dia, foi minha.
- E que nome gostaria de receber? Há algum que possa definí-lo?
- Diga-me você, Maxim, meu amado imortal.
- Antinko...nada melhor do que "Antinko"...é o nome perfeito!
- Antinko? É algum nome de sua terra natal?
- Sim e é de grande significado e nada lhe definiria melhor do que este nome.
- Se é assim para você, então eu aceito.

Maxim toma Antinko como aprendiz e amante, ensinando-o a matar silenciosamente e a usar seu grande encanto sobrenatural para seduzir possíveis refeições. Antinko era bom nisso. Ele, em sua bondade humana e corpo belíssimo, conquistava facilmente. Era como Mephisto andando sobre a Terra. Antinko não conseguia matar, como Maxim havia previsto. Mas o jovem demônio o amava demais e fazia todo o trabalho sujo, matando humanos e deixando que seu pupilo deglutisse o sangue que jorrava da jugular.
Através de Maxim, Antinko aprendera a caçar e a tomar gosto por esta tarefa, mesmo não sendo bom como o seu criador. Antinko era sempre bondoso, evitando o sofrimento de suas vítima e apreciando cada gota de sangue como se fosse o melhor dos vinhos das melhores safras.

- Ora, não é que você gosta disso?
- Maxim... eu sinto tudo o que a minha vítima passou...eu vejo tudo! Agora posso escrever com tal sinceridade que jamais me fora possível.
- Costumo me perguntar o que eu vi em você. É tão fraco, tão humano.
- Isto é detalhe! Eu sou nada e você é tudo. Somos opostos que se atraem mutuamente.
- Poético como sempre, triste como nunca! Agora percebo que sua humanidade e sua melancolia é que me encantam.

Apesar de toda a assistência de Maxim, Antinko era muito descuidado ao caçar. Em uma de suas refeições, com a vítima já dominada, Antinko é atacado com um punhal. A mulher perfura-lhe o peito com uma adaga. Aqueles olhos cor-de-rosa se arregalam, incrédulos e Antinko dá um salto para trás, equanto Maxim voa em direção à vítima deitada, quebrando-lhe o pescoço.

- Imprudente! Imprudente! Você é um maldito imprudente! Jamais espaço para uma reação. Mate-os rapidamente!
- Me desculpe, eu olhei para o rosto dela...fraquejei por um momento...ela tem filhos...
- Pois não fraqueje novamente, pois pode lhe custar uma segunda morte!
- Serei mais prudente, Max - um beijo nos lábios frios
- Você é a única coisa viva que me torna fraco.
- É o meu talento e o seu karma. - risos metálicos ecoam

Banquetearam-se e voltaram para casa. Sentam-se à mesa para conversar sobre tudo o que passou e que se passa, ao som de boa música.

- Já está amanhecendo, Antinko. Vamos nos deitar!
- Certo!
- Deite-se comigo, meu inccubus, eu lhe imploro que me dê esta satisfação.
- Como se eu pudesse lhe negar algo...

Apesar dos corpos tão gélidos, ao se deitarem, o quarto ricamente decorado adquire um tom de vermelho absurdamente vivo e aqueles jovens imortais acabam por recordar sensações tão humanas, fazendo-os transpirar o sangue que os cora.

- Se isso acontecer sempre, terei de matar 3 humanos por noite.
- Como você é bobo, Max! Até parece que você já não faz isso. Até parece que não gosta de arrancar algumas cabeças.
- Hahahaha! É verdade, mas não sou tão simplista. Prefiro construir toda uma obra antes do final glorioso em que as cabeças rolam.

Ambos saem como dois assassinos, de tempos em tempos. Matam principalmente pessoas pobres, já que destas, ninguém dá falta. Em uma destas noites, Antinko vê Maxim atacar uma família, matando inclusive as crianças de forma cruel como sempre: torturando bastante.

- Max, são crianças! Como pode? Você é um monstro - Antinko chora desesperadamente
- Descobriu isso só agora, meu amor? Eu nunca escondi a minha natureza.
- Não imaginei que pudesse ser tão cruel com crianças!
- Ah, dane-se você com essa sua bondade!

Maxim continua sua tortura, rindo feito o demônio quando tentou Eva. Antinko, em um impulso, ataca seu criador, tentando pará-lo e Maxim, apesar de tudo, não consegue erguer a mão para aquele que tanto ama e somente segura suas mãos, impedindo os golpes.
Uma das crianças, que se arrasta feito uma morta-viva devido aos ferimentos, se lança em direção à Antinko, para incinerá-lo. Max, ao perceber o perigo que corria seu amado, se lança na frente daquela tocha e seu corpo arde em chamas. Ainda sim, termina com a vida daquele pequeno humano e logo após, seu corpo cai carbonizado, mas ainda cheio da vida vampírica.

- Por que fez isso, Max? Por que me protege mesmo quando eu atentei contra seu corpo?
- Já disse que é você é a minha fraqueza, Antinko. Ahhhhrr...está doendo muito!
- Antinko...o que isto signfica? Não lhe perguntei antes, mas agora quero saber porque me deu este nome!
- Hum... isso não importa, importa?

Antinko morde os próprios lábios e o sangue escorre.

- Agora me importa, Max, agora me importa.
- Antinko significa "Inestimável", meu anjo caído...

Agora, o sangue não só escorre pela boca de Antinko mas também de seus olhos. Ele se abaixa e beija os lábios chamuscados de seu demônio, dando-lhe um pouco de sua vida, no intuito de regenerar aquele que ama.

- "Inestimável"... nunca me imaginei assim para alguém..."Inestimável"...Antinko..

Novamente a chuva cai, apagando as labaredas sobre Maxim que se recupera lentamente através do sangue de seu amado Antinko.

Um comentário:

  1. O Mette como sempre, muito bem inspirado! O.O Curiosidade de ver mais uma prosa erótica....

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