sábado, 20 de fevereiro de 2016

Baudelaireano

Quando o Ideal é imoral,
Quando o Spleen é atemporal
E as Flores do Mal brotam
No jardim do Eremita que
Nada faz, nada evita,
Põe-se de joelhos o homem.

Reza-se à Satanás que lhe
Forneça, a qualquer custo, paz.
Aparece o Príncipe, em um pulo
E repleto de soberba e astúcia
Declama, com voz ressonante:

"Jaz aqui a tua paz!
 Tome-a e cave sua cova,
 Pois seu corpo à Gaia pertence
 Mas sua alma perene e indolente
 Me é de direito e faz-me contente."

Então o homem cava a sua cova -
À despeito de toda a imundície-
E nela deita como fora seu leito,
Esperando um alento para seu peito.

Jaz ali um mortal inerte e frio,
Como Eurídice no Hades,
Posto que a vida, ainda que pulsante,
Não mais lhe apraz: amou uma moça e um rapaz.
Deles colheu somente asco,
Algo ácido como damasco.


* Imagem retirada de http://www.deviantart.com/art/la-fleur-du-mal-398710711 *

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