segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Vermelho



- Você está pronto. Não há nada mais a aprender comigo, meu jovem. Agora é tudo por você mesmo...desenvolva suas habilidades.
- Obrigado grande mestre! Agora vou seguir por mim mesmo.

E estas foram as palavras com as quais ele começou a sua vida de mago. Um mago bem jovem, que aprendeu muito, mas que ainda deveria desenvolver suas habilidades mágicas. Ah, que falta de educação a minha! Perdoem-me, sim? Eu sou o Bardo e venho lhes contar essa história, que testemunhei com estes olhos castanhos, do jovem mago conhecido como O Vermelho ou simplesmente Vermelho. Isto é devido à sua longa capa vermelha que lhe cobria todo o corpo, expondo somente as mãos recobertas por luvas de pele de dragão. Os cabelos bem negros que lhe encobriam parte do rosto, mas que ainda revelava os olhos igualmente escuros...tão escuros como as trevas que habitam algumas criaturas nesta terra. O Vermelho sempre foi de poucas palavras e estas, quando pronunciadas, normalmente eram algum tipo de spell ou invocação de alguma entidade. Apesar disso, nos dávamos muito bem, sem necessidade de falar muito.

Ah, devo avisar que lhes contarei as histórias deste mago, mas sem me ater à cronologia. Creio que eventos em si são mais importantes do que as datas...e também porque minha memória não é uma estante organizada, então, dependo ainda das lembranças.

I- O Começo

Ele pegou sua tão característica capa, jogou sobre o corpo magro, cobriu as mãos com as luvas e saiu pela porta da frente de sua casa.

- Vamos, meu amigo Bardo?
- Para onde, Vermelho?
- Que importa isso? Vamos para onde a brisa soprar - um sorriso sábio.

Passamos por grandes árvores centenárias e talvez milenares, com suas grossas raízes entranhadas no solo firme. Um rio cristalino recortava aquela planície imensa e a correnteza, juntamente com a brisa que soprava contra a grama e a capa vermelha que tremulava, formavam um cenário pintado pelas próprias mãos de Ilúvatar. Ah, como era agradável caminhar naquele lugar. Compus algumas coisas lá, mas não vem ao caso no momento.
Seguimos em frente, apreciando cada detalhe da paisagem tão perfeita e, após um aglomerado de rochas, encontramos uma pequena cabana de onde emanava cheiro de flores e ervas. O aroma era agradável mas, ao mesmo tempo, intoxicante.

- Parece ser a loja de um boticário. Vou entrar.
- Mas para que, Vermelho? Você é um mago...
- Conhecimento. As plantas podem potencializar os feitiços elementais, além do poder de cura e de envenenamento.
- Se lhe parece proveitoso, que entremos, então.

Ignorantemente, pensei que passaríamos somente algumas horas ali mas estava enganado. Acreditam que passamos 24 Luas na casa daquela lindíssima boticário? Uma humana de pele clara, olhos verdes e cabelos acinzentados. A voz suave, de entonação imponente combinavam bastante com o cheiro de dama-da-noite que emanava da pele dela. A boticário, que mais tarde se apresentou como Flora, me pareceu uma ótima instrutora, apesar parecer sempre confusa com aqueles vários potes repletos de folhas, flores e sementes.
O vermelho sempre a ouvia atentamente, fazendo infusões, poções e venenos com grande destreza e cuidado. Lembro-me de um dia em que ele deixou cair um extrato qualquer sobre um amontoado de pó de uma semente, que eu não soube dizer qual era, e aquilo provocou uma fumaça branca e espessa que nos deixou intoxicados por algumas horas. Cheguei ao ponto de ver máquinas voadoras, devido ao efeito toxico daquela fumaça, creem nisto? Isto aconteceu tão logo o Vermelho deixou a casa de seu mestre e tutor. Por uma feliz coincidência, isto acabou sendo cronológico, senhores, mas como havia dito, os próximos fatos não respeitarão uma ordem.

II- Elemental

Certa vez, chegamos a uma vila relativamente grande, com vastos campos para cultivo e até algumas edificações em pedra. Andando por aquele lugar, ouvimos as pessoas comentando que o solo havia morrido após um incêndio provocado por forasteiros. A primeira coisa que o Vermelho me disse foi "posso reviver este solo", mas eu o alertei de que aquilo seria difícil, de que ele teria de agir às escondidas porque um forasteiro raramente é bem-recebido. Pior ainda quando os últimos forasteiros foram criminosos.

- Vermelho, você vai mesmo fazer isso?? É uma boa oportunidade de aumentar suas habilidades, mas ainda acho perigoso, porque as pessoas nunca nos viram e sequer confiam em nós.
- Elas não precisam saber, Bardo. Farei isso durante a noite. Mas preciso que você me traga algumas coisas. Tem boa memória? A lista é bem grande
- Ora, sou um poeta, músico e contador de histórias. Memória é o que não me falta.
- Ótimo, grande amigo, ótimo. Preciso que traga...- ele se deteve pois um garotinho, com enormes olhos cor de mel, o olhava com curiosidade e admiração. Ei, garoto! O que você tanto olha?
- A sua capa. Ela é muito bonita! O senhor não é daqui, não é? O senhor é estranho! - O garotinho desandou a falar, com aquela espontaneidade característica das crianças.
- Escuta, garoto! Gostaria de brincar comigo e com o meu amigo aqui?
- Sim, sim, eu quero! - os olhos brilharam.
- Então eu preciso que ouça tudo o que vou pedir para o meu amigo e o ajude a encontrar o que eu disser.
- Como uma caça ao tesouro?
- Sim, uma caça ao tesouro! Se vocês conseguirem tudo, amanhã esta vila terá uma surpresa.
- Mas o que devemos encontrar, senhor?
- Plantas, garoto, muitas plantas. Você conhece muitos tipos de plantas?
- Claro, senhor! Conheço todas as plantas do mundo! - ah, a inocência que marca as crianças. O mundo, para elas, é tudo que as cerca.
- Então ajude meu amigo Bardo. Sabe, ele não é muito bom com essas coisas. É ótimo com poesia e histórias, mas não entende nada de plantas. - O Vermelho cochichou, em tom de zombaria com o garoto, que estava se divertindo com a idéia.
- Vermelho, o que deu em você? Nunca te vi falar tanto em tão pouco tempo.
- É um caso de necessidade, meu amigo. Este garoto vai ser de grande ajuda. A pureza dele vai servir para que eu realize facilmente o que almejo.

Bem, coletamos vários tipos de trepadeiras, folhas, flores, frutos e sementes e lhe entregamos. Ele colocou tudo em um recipiente de bronze, macerou e jogou algum pó ao redor dos campos. Lembro que este pó brilhava sob a luz da Lua. A seguir, ele disse as seguintes palavras:

"Pelo poder de Gaia, que permeia este solo,
Eu invoco a chuva, que molha e lava esta terra seca.
Pelo poder de Gaia, que traz à vida,
Eu invoco as ninfas que, com sua dança,
Fertilizarão esta terra destruída.
Pelo poder de Gaia, realizo meu intento,
Ouçam-me elementais desta Terra e
Façam nascer aqui, toda a sorte de provimento!"

Uma chama verde consumiu o extrato, que sumiu, do recipiente e a fumaça se desfez tão logo apareceu. Aquilo foi fascinante! As árvores, que haviam se agitado ao som da voz do Vermelho, agora se aquietavam.

- Podemos ir, Bardo.
- Mas...como sabe se funcionou?
- Não há nada no recipiente e a chama verde apareceu. Se ainda duvida do efeito, daqui algumas luas, ouvirá falar deste feito. Vamos embora!
- Para onde vamos?
- Ah, que importa? Vamos na direção da estrela que você julgar mais digna de um poema.
- Você é tão despreocupado...
- Amigo, que tal tocar seu bandolim e cantar um pouco para alegrar nossa viagem? Pode fazer isso?
- Claro que posso! - E assim seguimos em frente. Ele estava certo! Quando já estávamos bem longe dali, ouvimos falar de uma vila que se recuperou milagrosamente de um incêndio e plantas que jamais nasceram ali, agora proliferavam aos montes.

Aqui interrompo esta estória e lhes contarei outras sobre O Vermelho. E que fique bem claro: isso tudo foi vivenciado por mim, então não sou só mais um bardo que reconta lendas de tempos remotos. Eu faço parte desta lenda, desta estória. A estória do mago Vermelho.

[ Vermelho, Vermelho, o mago Vermelho,
De olhos escuros e cabelos negros,
A capa vermelha que lhe cobre o corpo
Tremula imponente ao sabor do vento.
A brisa suave lhe acaricia o rosto.
Fogo, Terra, Água e Ar;
O mago Vermelho é o 5º elemento
Desta mistura, com esta alquimia,
Em tons de vermelho, surge a magia.]


*Obrigado ao Boss, que criou o personagem e me permitiu escrever sobre ele ^_^*

2 comentários:

  1. Eu adorei qnd vc postou \o e mantenho a mesma opnião... vc deveria trabalhar em cima dessa história.

    Adoro te ler, Matti!
    Kisses

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