quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Saudades


Agora me deito, irei dormir mas, não sei se acordarei.
Vários anos que passaram, são como pesos em minhas costas.
O que mais poderia restar à esse velho incrédulo?
Paixões? Sim, eu tive muitas. Me lembro do sorriso das mulatas ao se deitarem ao meu lado e ao me fazer carícias. Elas me amavam, sim eu sei que elas me amavam. E o que eu lhes dei? Meu desprezo apenas por não serem mais donzelas.
Ah, como fui um tolo.
E pensar que uma delas poderia ser a mulher da minha vida!
Eu ainda me lembro bem, de correr atrás de galinhas como se fosse uma brincadeira. As deixava tão assustadas e ria disso. "As pobres galinhas assustadas" eu dizia enquanto ria irônicamente. E hoje o que resta é apenas um velho assustado com medo da morte.
Respeitava os velhos, mas ouvia os mais novos. E hoje sou apenas um velho que não merece o respeito ou ser escutado pelos outros.
Me lembro de correr e soltar pipa. Sonhava em poder voar e ser livre. E o que me restou foi ser preso por ser mais um bêbado atormentando menininhas na rua.
Saudades...
Do cheirinho dos cabelos de minha mãe, do seu sorriso à me convidar a comer algo, dos seus cuidados durante a noite comigo...
Saudades...
Das brincadeiras do meu pai, do calor de seu abraço e dos botões de madeira que usava em sua roupa.

E vejo que tudo aquilo que tinha que viver eu vivi. Se tenho um arrependimento, foi de não ter amado quem eu devia amar...
E o que me resta? Ir dormir confiante de que a morte terá piedade de mim e me levará desse mundo o mais breve possível...

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