quarta-feira, 22 de março de 2017

XXIV - Keruv - Ethos de uma Alma Invertida




Em seus cachos
Poderia eu repousar,
Sem a sua pureza profanar,
Querubim dos cabelos enrolados?

De seu corpo rechonchudo
Poderia eu sorver o
Amor e a adoração,
Sem que isto se volvesse
Em luxúria e paixão?

Seria possível que meus
Pés grosseiros e vis
Pisassem os céus
Para ter-te para mim,
Primoroso Querubim?

Seus lábios macios poderiam
Cantar-me uma canção
De amor sem que a minha
Essência sofresse fusão?
Ou cantar-me uma canção
De ninar sem que minha
Vida fosse arrebatada, então?

Teus olhos tímidos,
Puro Querubim, poderiam
Fitar os meus sem que eu,
Como a diabólica górgona,
O transformasse em uma
Escultura de pedra como
As expostas em um museu?

É digno e justo,
Cacheado Querubim,
Que Botticelli lhe faça
Mais justiça na
Pintura do que eu
Na torpe poesia?

O certo, Querubim,
É que eu teceria
Minha teia e nela
Eu lhe prenderia...
Quem sabe devoraria...
Mas o certo é, à sua
Imagem, a minha
Idolatria, Inocente Querubim.




* Imagem https://www.artmajeur.com/en/art-gallery/aleksei-gorbenko/292732/an-angel-a-friend-and-vacuum/8468278*

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mostre sua alma!