sábado, 15 de janeiro de 2011

Garden


A coroa, banhada pelos fluidos de Andros, carrega uma boa energia chegando a emitir uma luz suave, branca e pura. Ela se torna uma aliança incomum, pois é verdadeira.
- Hmm...parece que estes amarantos estão crescendo.
- Não faz muito sentido, Andros. Quero dizer, são flores que não têm raízes...não podem crescer se não estão ligadas à Gaia.
- Como você pode dizer isso? Logo você que desapareceu e reapareceu como se tivesse voltado à vida.
- Eu não havia morrido. Caminhei por algum tempo e depois tudo escureceu, meu corpo ficou mais leve e é como se eu tivesse voado...sem que o tempo me afetasse...só não sei explicar aquilo. Mas é óbvio e todos sabem que flores só estão vivas realmente se suas raízes estiverem no chão.
- Nada do que você diga, vai mudar essa sensação que tenho...amarantos são eternos e isso é fato, mas me surpreende o fato de que estejam crescendo.
- Ah...pra que perder tempo com isso? O que importa é que essa coroa foi feita por você e o que ela simboliza.
Troca de olhares, sorrisos...Andros recosta sua cabeça no ombro de sua metade.
- Seu corpo tem um cheiro bom...é tão característico de você.
- Isso que sai dos meus poros é o que eu sinto e por isso o cheiro é bom, Andros
- É incrível como você mescla ceticismo, poesia e espiritualidade.
- Sou uma incógnita até para mim mesmo. Deixemos de conversa e vamos andar por aqui...foi assim que nos encontramos e eu quero relembrar isso. Aquela floresta me parece um ótimo lugar para caminhar e tem tudo o que você gosta: flores, animais, árvores...
- E você - Andros sorri inocentemente.
Ambos saem caminhando através de grandes árvores imponentes, de folhas extremamente verdes e algumas delas floridas das mais diversas formas e cores. Formações rochosas cobertas por líquens serviam de abrigo para os mais diversos insetos e plantas.
- Esse lugar parece muito antigo.
- E deve ser mesmo porque as árvores são imensas, Andros. Estes musgos e estas rochas devem ter demorado uma eternidade para ficar assim, mas apesar de tudo, é um lugar agradável.
- Sinto como se essas árvores tivesse aberto passagem e suas folhas formasse um túnel...uma alameda natural. Gaia é uma ótima arquiteta, não?
- Você acredita em criaturas espirituais?
- Não sei ao certo, mas já encontrei alguns anjos enquanto você esteve fora...mas é melhor esquecer tudo porque você voltou e isso é que importa.
- Você é adorável! Vamos continuar e ver em que lugar termina esse caminho.
Naquele longo corredor natural, Andros visualiza uma luz azulada que piscava incessantemente.
- Olha aquela luz! Nunca vi nada assim antes! Ela não me parece ameaçadora...
- A mim também não. Vamos seguir?
- Vamos. Quem sabe não há algo bom lá no final?
Os dois correm em direção à luz, que se mostrou menor e mais intensa à medida em que se aproximavam. Quando alcançaram a luz, uma voz foi ouvida:
- "Não os aconselho a passar deste ponto. Se passarem daqui, assumam os riscos..."
A voz vinha da luz e, olhando mais de perto, Andros viu uma forma minúscula e humanóide.
- Riscos? Se há riscos, deve haver algo valioso lá dentro - A Metade pensa alto.
- O que pensa em fazer? - Andros diz, com um ar de preocupação.
- "Sim, é um lugar de valor..."
- Não precisamos de nada disso. Vamos voltar, meu amor!
- Acalme-se, Andros! Eu mudei mas não tanto e você ainda é o que há de mais importante para mim. Só penso que este possa ser um lugar que você goste...aquela criatura na luz nunca mencionou que era valor material...
- Isto é certo. Aquela criaturinha parece um silfo...
- "Sou, sim, um silfo e estou aqui para alertar a qualquer um que queira adentrar neste lugar: o último par de olhos que viu este ambiente, se tornou cego..."
- Quero arriscar. Vou adentrar neste lugar, por você, Andros.
O céu limpo se torna nebuloso e uma chuva fina cai, molhando a folhagem e fazendo com que a luz do silfo se tornasse ofuscante. Uma brisa leve sopra, alimentando o clima de mistério.
- Então vamos...nós dois.
- "A escolha é de vocês. Se confiam têm tanta confiança em si, que se arrisquem..."
Passaram por dois grandes carvalhos vistosos que davam passagem por um caminho cercado por plantas espinhosas. Ambos resolveram seguir assim mesmo, movidos por um impulso e uma curiosidade natural de todo ser vivo mesmo à custa de algus arranhões e cortes...ora, o que importava isso? Estavam juntos e isso os tornava muito fortes.
- Mais dois carvalhos como aqueles, Andros. Ali deve ser o final de tudo.
- Então vamos seguir!
Uma luz intensa os fez parar por um instante, acelerando seus corações e refreando seu ímpeto de adentrar aquele lugar.
- Você se recorda do aviso daquele silfo? Devemos seguir assim mesmo? - Preocupação e medo na fala de Andros.
- Seu rosto está na minha mente, seu corpo está sempre próximo ao meu, sua voz ecoa nos meus ouvidos, sempre sinto o seu cheiro e o gosto da sua boca está na minha. Por que deveria parar logo agora?
- Eu não sei o que dizer ou o que fazer, mas estou com você seja qual for a sua decisão.
- Feche seus olhos, Andros e eu vou te guiar.
- Mas e os seus olhos?
- Já lhe disse que tudo o que eu preciso está sempre comigo. Meus olhos não farão falta!
- Tudo bem...confio em você.
A Metade adentra segurando a mão de Andros, que vem logo atrás. Aquele pequeno facho de luz se torna gigantesco e ofusca aquele par de olhos.
- Abra os olhos, Andros e me diga o que vê.
- Você não consegue enxergar? Eu não deveria ter deixado você vir! Eu...
- Abra os olhos e me diga o que vê. Deixe as lamentações para depois.
Andros abre os olhos e se surpreende com o ambiente paradisíaco: árvores, flores, animais, água e vento fresco.
- Esse lugar é perfeito!
- Também achei...
- Você pode enxergar?
- Posso. Acho que aquela advertência era só um modo de afastar as pessoas deste lugar ou, por alguma razão, nossa entrada foi permitida.
- Este lugar deve ser como os Campos Elíseos...
- "Se pretendem ficar aqui, cuidem deste lugar como se fosse a vida de alguém muito querido..." - Ouve-se a voz do silfo mas ele não aparece.
- Andros, devemos ficar aqui?
- Acho que esta visão nunca vai me cansar. É tudo tão bonito e vivo...este lugar é perfeito para nós dois.
- Se é bom para você, é bom para mim. Mesmo com tudo isso, você ainda é a criatura mais perfeita que meus olhos já viram...
Andros, com seus olhos cor-de-safira, fita a sua metade intensa e diretamente nos olhos. A boca rubra toca aquela outra boca...

*texto do Matti *-*    *

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