terça-feira, 9 de setembro de 2014

A Queda do Anjo - Capítulo VIII - O Despertar da Besta


"Sodoma desperta no horizonte
  Canaã reluz esplendorosa ao longe
  Deuses antigos revelam-se, então,
  Esmagando o poderoso Javé contra o chão."


Se os gregos pudessem ver o céu dos trópicos naquela noite, diriam que Ártemis se mostrava no auge de seu poder e beleza. Os pequenos insetos caminhavam e saltavam velozes sobre a grama úmida, com vários e miúdos vaga-lumes cintilando sua luz natural como se fossem pequenas estrelas a vagar entre as efêmeras vidas da floresta. Aquela noite apresentava um aroma diferente... sombrio mas muito sensual. Poucos archotes estavam acesos pois a noite estava clara e as pessoas ainda transitavam pelo interior da colônia. No mosteiro, os padres estavam rezando como era habitual naquela hora. O "Pai Nosso" ecoava repetidamente em latim como um mantra quase atormentador.

Logo que despertei, movi-me para a floresta próxima ao mosteiro, perscrutando os sons da mata em busca de Ángel. Não me foi nada trabalhoso encontrá-lo, mas de certa forma surpreendi-me com a imagem que revelou-se diante de meus olhos imortais: Ángel montado em uma jovem como se fossem animais. Ele a penetrava por trás e ela urrava. Seu rosto e seu corpo estavam embebidos em suor, como rostos igualmente suados exprimindo um tipo de êxtase. (Antes que eu prossiga, devo dizer que esta situação repetiu-se por alguns dias e eu o observava de longe, sem ser notado). Ali mesmo se divertiram e ali mesmo Ángel deixou a garota e caminhou para a floresta quando eu o chamei por telepatia. Ele nem ao menos preocupou-se em por suas vestes. Veio  para mim ainda nu e com o cheiro dos fluidos impregnado em seu corpo.

O seu caminhar havia mudado, assim como o seu olhar e o seu falar. O caminhar era confiante... quase felino, o seu olhar também tinha uma centelha de luxúria em meio à inocência ainda viva e seu jeito de falar havia se tornado quase poético, pois sua voz estava adocicada e arrastada. Uma vez mais eu havia feito um trabalho magnífico, ao que me parecia. Ángel havia perdido parte da inocência e assumido uma postura, por vezes, selvagem - talvez uma postura mais condizente com a sua cultura indígena ou, ainda, a parte humana de sua alma havia manifestado-se.

- Meu querido, por que não cobre o seu corpo?
- A nudez é pecado?
- Não... a nudez somente revela seu estado natural, como Deus o fez.
- Então deixe-me viver conforme a minha vontade, meu anjo! - olhou-me com desafio.
- Poupe-me deste olhar, Ángel! Não é a mim que você deve direcionar este olhar e esta raiva...
- Isto será direcionado a quem merecer!
- Esqueça isso! Não importa. Eu vi você e aquela garota...
- Foi agradável e novamente eu senti aquilo...aquilo como quando você me mostrou O Sétimo Pecado. Mas o que tem este fato? - uma nuvem de curiosidade e orgulho passou sobre ele.
- Só estou vendo sua libertação...você não está mais preso à esta farsa.
- Não mais e estou pagando o preço. - Ele virou-se e suas costas mostravam as marcas de açoite.
- Eles não podem julgá-lo! Faça justiça, meu querido! Por você, pelo seu povo e pelos deuses antigos que foram suprimidos pelos falsos sacerdotes de Deus. Um deus amoroso não imporia castigos físicos. Não condena sua criação ao tormento. Faça justiça!
- Como farei isso?
- Reze aos deuses... os deuses de sua mãe e seus avós e eles lhe dirão como fazer justiça.

Abri meus braços e Ángel abrigou-se neles como um filho que procura força e amparo nos braços de um pai. Alisei-lhe os cachos e fiz minhas mãos escorregarem em suas costas feridas. Um gemido de dor acariciou meus ouvidos e as lágrimas lhe molharam o rosto moreno. Minhas unhas cravaram-lhe as nádegas e minhas presas o pescoço, provendo-me o alimento tão necessário e tão saboroso. Seu corpo desfaleceu, mas a sua vida não se esvaiu pois não era da minha vontade.

De olhos fechados, desacordado no chão, os lábios sussurravam "Quetzalcoatl... fogo... vingança..."

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