segunda-feira, 28 de abril de 2014

São Matheus, o 73º demônio

Santo sou eu, que
Não sou perfeito e
Que não escondo as
Minhas imperfeições.

Santo sou eu, que
Carrego as dores pelos
Meus pecados tão
Sutilmente cometidos.

Pecados que eu amo;
Pecados que me envergonham;
Pecados de um gosto refinado;
Pecados repugnantes.

Eu possuo o gosto
Dos anjos e os venero
Como o mortal que sou.
Eu os venero como pecador
Que sou, em busca de redenção
- Em busca de mais e mais pecados -
E os venero com a ânsia
E receio de tocá-los.

Eu possuo o gosto dos anjos
E os devoro com a voracidade
Do mais apto dos predadores.

Caio de joelhos diante do
Altar, quando os olhos dos
Santos pairam sobre mim.
Ergo-me e dispo-me, mirando-os
Com sofreguidão, quando
O anjo em mim se rebela,
Exibindo a minha nudez nefasta
E profana que só os
Anjos rebeldes detém.

Talvez eu arda nas chamas
Dos sete infernos, mas é
Certo que estas chamas
Infernais ardem em mim...
Ou, quiçá, somente o fogo
Divino que se manifesta e
É incompreendido por todos (?)

Na certeza da possível
Impureza de minha natureza,
Que tanto almeja a beleza,
Luto com destreza para
Manter um mínimo de pureza,
Ainda que lá no fundo,
Pulse uma centelha infernal.

Centelha infernal que
Me convence de que sou
Absolutamente normal.
Talvez apenas controverso,
Mas sempre honesto,
Pesado e profundo...
Quem sabe até amábil
Como um sempre tocante adágio (?)

Quem sabe a maior virtude
Deste possível santo, seja
A ciência de que há sempre
Um demônio à espreita, esperando
Uma abertura estreita para
Fazer eclodir A Besta (?)

A única certeza é que
Estou certo da incerteza
Da minha tão estranha natureza.

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