domingo, 19 de janeiro de 2014

A Queda do Anjo - Capítulo VII - O Sétimo Pecado

"Quando o fruto foi mordido,
 Revelou-se o que estava escondido.
 O solo tornou-se úmido

 E a semente foi derramada...
 Libertou-se o que estava contido."

- A bíblia é uma farsa. Deus pode ser uma farsa, mas isto é uma questão metafísica. Cá estou eu, um anjo, e lhe pergunto se eu pareço ser irreal ou imaginário. Quanto ao pecado... o que você entende por pecado?
- Gula, avareza, indolência, ira... luxúria...
- Ah, os sete pecados... e você os vê ao seu redor?
- Bem, padres banqueteiam, recebem doações mas não fazem doações, nos colocam para trabalhar muito e não fazem nada, nos açoitam por nada...
- Pois agora vê que não são santos? Crê que seriam burros o suficiente para pecar, sabendo o que os espera pós morte? - Os olhos de Ángel iluminaram-se, como se um lampejo de sabedoria lhe tivesse ocorrido. Diria que foi o mesmo brilho que iluminou os olhos de Eva, quando esta viu a maçã.
- Se eles pecam, o inferno não existe ou não existe o próprio pecado... - ele levou as mãos às têmporas e apertou os cabelos.
- Você está começando a entender as coisas...
- Mas ainda sim, a luxúria é a mais recriminada. Eles nos dizem para sempre cobrir as vergonhas e nunca nos tocar, pois isto é a chave para que o demônio nos possua.
- "Cobrir as vergonhas"?
- Sim. Nunca devemos nos despir na frente de ninguém. e nunca devemos ter pensamentos lascivos.
- Ángel, meu querido, dispa-se de suas vestes... de todas elas.

Ele era tão manipulável... tão manipulável quanto uma marionete ou como o barro com que O Arquiteto fez o homem. Percebem como eu o levei da forma como quis? Ao mesmo tempo, ele passava a questionar certas coisas sem que eu sugestionasse.
Sem relutar, ele tirou as roupas - eu conquistara sua confiança - e novamente me vi estático e extasiado. O corpo muito jovem se mostrava... "recortado", com a silhueta dos músculos tornando seu porte atlético mas bem longe de ser fisicultural. O peito se mostrava largo e os braços morenos e esguios eram longos. As pernas grossas exibiam belas coxas.

- Meu querido, olhe para si próprio e veja a sua própria beleza! A perfeição de seu corpo por inteiro. Diga-me: onde está o pecado na natureza? Qual o pecado da nudez? Por que Deus condenaria algo que ele mesmo fez?
- Eu... não tenho... não sei essa resposta...
- Toque no que há entre suas pernas, Ángel! Viva a sensação que tomará seu corpo e não se preocupe com nada!

Ángel escorregou a mão pela barriga, tateando o umbigo como se estivesse em um terreno desconhecido. Eu escutava seus dedos roçando os pelos lisos e curtos, enquanto algo despertava lentamente. O sangue começou a correr velozmente em suas artérias e o som do fluido vermelho preenchendo os corpos cavernosos me fez ter a sensação de arrepio.

- O que sentes, meu querido?
- É... bom... talvez uma forma de ter um pedaço do paraíso bem aqui.
- Então? Isto lhe parece pecaminoso? Algo tão bom pode ser pecado?
- Não creio mais nisso... - seus olhos estavam fechados e sua voz arrastada - algo tão bom só pode ser feito pelas mãos de Deus. - Ele mordeu os lábios com tanta força, que senti o cheiro de seu sangue brotando por entre as microfendas de seus lábios.

Ele simplesmente não disse nada. Deitei-me sobre ele, fazendo com que meus lábios tocassem delicadamente cada zona sensível em seu corpo. Minha mão roçava seus pelos e era aquecida pelo calor daquilo que havia nela. Ele sequer percebeu o quanto meu corpo era frio ou o quanto o contraste de nossas peles era bonito. Se percebeu, nada fez. Meus dentes lhe perfuraram novamente o pescoço, fazendo o sangue preencher minha boca. mas isso não me era o suficiente e também bebi de seu peito e de suas coxas. O mestiço tão somente gemia e eu o sentia pulsar intensamente, até que senti o cheiro de seu fluido derramando sobre sua barriga.

- Tudo isto que você sentiu, meu querido, faz parte de sua natureza. Se faz parte da natureza, foi criado por Deus e se foi criado por Deus, certamente não é pecado. O prazer foi dito como pecado tão somente pela conveniência, já que não é interessante para A Igreja dividir seus bens com as famílias de seus padres.
- Mas isso não os impede de fornicar, certo?
- Correto! Observe como o padre Raul olha e toca certos jovens! Ángel, meu querido Ángel, desfrute o prazer e refestele-se com comida e vinho. Aprecie o ócio, sinta a força da violência... tudo isso faz parte da humanidade. No entanto, devo alertá-lo: usufrua com parcimônia e o prazer, mais especificamente, deve ser explorado.

- Sei que é o momento de sua partida, mas peço que amanhã volte para mim. - Ainda despido e com a barriga úmida, Ángel deu-me um beijo e sorriu.
-Eu voltarei para lhe ensinar mais. - Parti, saltando para as nuvens densas. - Mas voltarei quando jugar necessário...


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