sábado, 30 de junho de 2012

Dueto




Eu abri minhas asas atrás de ti
E estendi a minha espada, cruzando-a
Em frente ao seu peito frágil.

Minha voz suave, falava com firmeza
Nos seus ouvidos e minha mão esquerda
Tentava tirar-lhe a venda dos olhos.

Minha língua lhe parecia ser bífida,
Minhas asas lhe pareciam negras e
Minha espada lhe parecia tanger o pescoço.

Eu poderia ter gritado e movido os céus
Para que você pudesse ouvir e ver que
Eu tentava lhe proteger, no entanto, não quis.

Simplesmente permaneci atrás de ti e,
Com a pretensão de ser um anjo da guarda,
Lhe acompanhava sem que você pudesse me ver.

Finalmente tirei-lhe a venda dos olhos
Mas não sem antes silenciar toda a minha tristeza.
Já sem a venda, a penúmbra envolvia-lhe os olhos.

Seus olhos, envolvidos pela escuridão, tão
Somente vislumbravam uma pequena luz fraca.
Você buscava aumentar aquela luz, mas não a alcançava.

Por uma fração de segundo, durante aquele tempo,
Você acreditou que aquela luz lhe aquecia e lhe norteva.
Você quis crer que minha espada lhe cortava a garganta.

Finalmente sua mão pequena alcançou aquela luz,
Mas você pagou um preço muito alto por isso.
Você foi tomada pela sombra imensa daquela mísera luz.

Alguma vez você pode sentir minhas lágrimas?
Alguma vez você me viu tentar apagar aquela
Luz que lhe causava tanto mal?

Eu, pretenso anjo da guarda, falhei humanamente.
Eu, pretenso anjo da guarda, bati minhas asas.
Eu, pretenso anjo da guarda, lhe deixei minha espada.

Você, com sua fragilidade quase infantil, viu que
As sombras eram maiores do que a própria luz.
Você, com a sua delicadeza de infantil, pegou a espada.

Você, quando eu somente observava, seccionou a luz
E a extinguiu juntamente com toda penumbra dominante.
Em meio às minhas e às suas lágrimas, sorrisos floreceram.

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