quinta-feira, 26 de abril de 2012

Admirado Pienet



Mais uma vez eu me encontro em um parque qualquer, nos arredores da cidade. Mais uma vez, essas únicas vezes nas quais saio do meu quarto. Já era tarde mas eu ainda podia sentir a alegria das flores a espalhar vida. Sentado no chão, como todos as outras vidas ao meu redor, perdi muito de meu tempo acariciando o verde abaixo de meus pés. E notar o quanto este é leve, o quanto perceptível se torna a palma da minha mão quanto mais a acaricio. Percebia cada vez mais que aquilo ja estava se tornando necessidade. Grama. Nunca estes encontros foram tão valorosos quanto ultimamente. A vida e o contato com ela me faziam reconhecer o quanto insignificante alguém como eu era para o todo que estava envolta. Se eu ao menos não existisse... e o jardim vivesse sem meus abusos de pseudo-superioridade.
Mas é duro mentalizar eternamente o tudo.
Avistei um cemitério. Soltei a grama. Minha mão ainda sentia como se estivesse a acariciar. Bom como eu não me acostumo com tal sensação e posso sempre fazer dela nova, e de certa forma arquivar isso no fim do dia. Quanto mais me aproximava dos grandes portões a sensação ia desaparecendo, e passei a coçar minha mão. Aquele é o tipo de arte que me instiga e me chama a atenção. Aquela posição de elementos, os detalhes que percebia em cada centímetro do portão eram incrivelmente instigantes. Andando rápido, estendi a mão para caminhar enquanto meus dedos esbarravam no portão. Em cada estalar de um dedo com o ferro das barras algo me dizia que eu deveria entrar. Minha curiosidade desejou pela leitura de epitáfios, se é que continuam a redigi-los.
Ignorei o coveiro. Afinal, naquele momento minha boca não se abriu. Comum. Não me recordo qual centro cultural, qual museu ou casa de arte pôde me fazer tão impressionado. A morte do ferro, a morte do homem e o nascer da lua, unido com as jovens e vividas flores... estavam a me chamar para uma dança. Uma dança de rodopios e contorções, de passos largos e proximidade exagerada. E pus a me inspirar.
Não tenho medo da morte. Talvez a ridicularidade que o homem apresenta e leva na busca da essência de tudo possa ter o tornado cego. Cego de vida, e com as bocas cheias de Sobrevivência, se é que alguém possa entender esta ultima citação... Enfim! Me recuso a pensar na morte como algo medonho e que deve ser levado a questionamento. Sou tão feliz com minhas verdades que não discuto com a distância que nós seres vivos temos com a morte.
Mas que bela visão! Uma estátua de anjo no meio do cemitério. No caminho percebo que não gosto de estar alí apesar de tudo. Os dois braços daquele anjo estavam contornados pelo que tenho certeza ser uma Antigonon leptopus. É claro que estava alí, contornando os baços do anjo, por ação do homem. O verde e o rosa enfeitavam a estátua presos no que posso chamar de fio. Esta espécie se ramifica dessa forma especial, delicadamente e sem chamar a atençao. Quando estou contornando o centro do cemitério vejo que atrás da cabeça do anjo vive uma Vanilla. Nunca antes vi uma Vanilla tão grandiosa, esta não cabia na palma da minha mão! Posso dizer que estas flores se opõe sobre as orquídeas em aspectos fisicos e simbólicos.
Quem ama não reconhece. Quem ama não compreende, nunca se tem ciência total da própria situação e negará. Estes que amam, sentem. E a sensação já não pode ser menos do que uma verdade absoluta na terra. A única, e não falo mais em verdades absolutas. Não tenho como explicar, simplesmente não reconheço de onde vem o amor, e esta sensação que tenho perto da natureza passa com toda a certeza de um simples sentimento. O meu Complexo persinte como uma emoção crua, o meu Confuso implora por descanso. Mas o meu Admirado intensifica as menores das paixões. Valoriza o mais tedioso dia. Inveja seu falar e se diminui para o resto da vida.

Pienet

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