quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Precipitação


Aqui estou novamente, sentado, escrevendo sem saber o motivo disso tudo. Desta vez não há luz de velas, a chuva cai lá fora e o frescor do ar tange a minha pele. Eu continuo amando dias chuvosos tanto quanto amava quando era um mortal... eu posso ver os pequenos prismas, que caem das nuvens, refratando a luz da lua. Seus olhos mortais não têm essa capacidade... nem mesmo sob a luz poderosa do Sol do meio dia.

Todo esse cenário me faz pensar em tanta coisa... todos que já passaram pelas minhas mãos e todos que eu ainda posso tocar. Já não sei mais onde está Antinko... nem me importa isso, a bem da verdade. Ele que descanse em paz ou que arda no inferno. Orfeu... eu o mandei para o Hades. Miguel éo meu querido agora e eu não o vejo há algum tempo, porque não quero amá-lo mais do que amo. Ele é especial para mim e eu não quero que isso morra...

Ah, essa chuva! O cheiro tão característico de terra sendo lavada, as árvores sendo banhadas e o céu estranhamente colorido... talvez claro, ainda que seja noite... as nuvens densas cobrindo as estrelas... há algo de poético em tudo isso. Meia-noite ainda. Para Poe, a hora da visita do Corvo, de Lenora e do Velho cego de um olho. Para mim, é a minha hora. Hora de lucidez banhada em chuva, hora de rever a família de vampiros... sim, mas não sei quando... a família distinta. Aquela matriarca que me fez ver ainda mais, o pequeno anjo que se torna um diabinho quando precisa, a garota distante... todos nós estranhamente próximos, territorialistas e protetores.

A chuva fina se tornou uma tempestade. Eu me divirto vendo as almas noturnas - com suas roupas curtas, álcool, tabaco e armas - fugindo da água que cai do céu, como se Deus fosse puní-las por seus pecados através de um dilúvio e sem um Noé para salvá-las. Também vejo tantos elementais em cada gota de chuva! Eles dançam alegres. O que, para os mortais parece o fim do mundo, para os elementais nada mais é do que uma bênção de Gaia. Um vampiro falando em bênção...?

Talvez para nós, vampiros, a chuva seja um alívio para dores na alma. Podem ser o perdão dos deuses se derramando sobre nossas almas imortais, perdoando-as, se assim desejarmos. Podem ser somente o cenário perfeito para a criatura faminta de caninos reluzentes, que se abate sobre o pescoço nu da jovem lindamente esculpida pela natureza - a beleza imortal versus a beleza mortal? Talvez uma filosofia possa ser vista em tudo isso.

Não tente entender a realidade vampírica... você não é capaz... a maioria de vocês não é!

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