sábado, 23 de julho de 2011

Laços de Sangue


Eu estava andando pela rua hoje, andando só por andar. Pode não parecer mas eu gosto de respirar ar puro e observar a noite. Talvez eu estivesse predestinado a ser um vampiro, porque nunca gostei da luz do Sol e sempre preferi a brisa fresca da noite. Andando pelas ruas pouco iluminadas, à espreita do primeiro que não for esperto o suficiente para não me encontrar. É... eu simplesmente gosto de morder alguns pescoços pelo simples desejo de sentir o sangue escorrendo pela minha garganta de morto-vivo para, enfim, sentir o êxtase de ouvir o coração da minha vítima rufar, sentir e ver sua vida, ouvir meu coração se sobrepor ao dele e... bem, depois eu decido se desejo a sua vida, sua morte ou a sua imortalidade. Divagando como sempre, Maxim!

Como dizia, caminhava por uma rua antiga, de paralelepípedos irregulares e casas com um ar barroco. A rua era até bem iluminada e terminava em uma praça com a grama verde e todos os tipos de flores possíveis... incrivelmente, a praça era bem cuidada - as pessoas não tem muito respeito por propriedades públicas - com uma castanheira imensa bem no centro. Havia um grupo de garotos lá, sentados em círculo, conversando alto, rindo, bebendo e fumando. Fumando e bebendo de tudo, devo esclarecer. Duas pessoas, especificamente, me chamaram a atenção. Uma era uma garota loira, olhos verdes, algumas sardas no rosto, os lábios finos e um corpo maduro. Ela usava calça jeans, uma camisa preta de alguma banda e um piercing no lábio inferior. Tinha o olhar meio... o garoto usava calça jean, camisa preta com uma de mangas vermelhas compridas por baixo, um transversal - creio que é assim o tipo de piercing, porque não conheço essas coisas - na orelha, a boca média e perfeita. O cabelo ondulado e desgrenhado, como é moda hoje em dia e o olhar tão frio...

Ah, mas eu não resisto ao ver coisinhas tão deliciosas. Claro que fui lá falar com eles. A maioria estava fora de si, devido à mistura de drogas e álcool, mas eu podia ouvir e sentir o sangue jovem correndo por suas veias com um poder que só corpos mortais jovens podem ter. A garota apagou o cigarro, me olhou de lado.

- Quem é você? Você é meio estranho. Tá branco ou é branco como a bunda Paulo - ela riu
- Meu nome é Maxim. Vim seguindo essas vozes e esse cheiro de álcool. Estão se divertindo tanto que resolvi me arriscar.
- Bom, basta que compre algo pra gente beber e fumar que você ta dentro. - fui em um bar próximo e trouxe algumas garrafas de cerveja.
- Aqui estão... qual o seu nome?
- Meu nome é Clara, o prazer é todo seu - ela deu uma piscadela. Aquilo foi um sinal de que tipo de garota ela era e eu me aproveitaria, claro!
- Tenho certeza de que o prazer é meu! - eu ri - Mas e o resto? São todos indigentes sem nome?
- Hey, seus viadinhos! Digam seus nomes pro nosso amigo branquelo aqui! - ela ordenou.

Todos foram se apresentando e havia todo tipo de nome estranho e inventado que eu nem vou mencionar aqui. Mas finalmente descobri o nome do garoto com o piercing. Eu poderia ter usado telepatia, mas não é divertido como parece ser. Prefiro instigar as pessoas a se confessarem. O nome do garoto com piercing é Miguel. Inferno! Eu acho que tenho uma queda por pessoas com nomes bíblicos! Acho que Deus adora me sacanear ou debochar de mim, porque não há nada tão irônico quanto um demônio falando em anjos.

Ficamos por horas sentados, conversando. Eu fingi que bebia, mas colocar álcool ou tabaco na boca me dava náuseas, porém consegui enganá-los. Eles cantavam alto, com sinceridade, as músicas que gostavam de ouvir. Heavy Metal... eu pude reconhecer porque aprendi a apreciar o estilo tanto quanto amo música clássica. O cheiro do sangue de Clara estava me enlouquecendo e eu precisava tê-la.

- Clara - pus a mão em seu rosto e a olhei nos olhos - pode me acompanhar? Quero falar com você.
- Hmm, um convite, é? Claro que vou, Maxim! Pode ser interessante.
- Me dá a sua mão, garota!
- Só a mão?
- Por enquanto sim - sorri.

Eu saí, arrastando Clara pela mão, levando-a para uma rua transversal à praça em que estávamos. Fomos conversando e eu, certamente, fui distraindo aquela garota sem a necessidade da hipnose vampírica que me é inerente. Vocês, machos que estão lendo isto, digam-me algo: o que acontece quando uma fêmea permite que você a olhe nos olhos e que sua mão pouse sobre a nuca delicada?AHAHAHAHAHAHA! Sim, um beijo! Todos vocês sabem disso tão bem quanto eu!

- Você está me seduzindo, Maxim! - pela primeira vez ela pareceu frágil.
- E você está adorando e não vai lutar contra, não é?
- Ai, caralho! Para de falar e faça logo o que eu tô esperando!
- Apressadinha você, mas então aguce o tato e sinta o que vai acontecer! - Eu fui em direção à sua boca macia e a beijei rapidamente. Então fui descendo pelo seu pescoço, seguindo o caminho da grande artéria. A minha respiração e o leve roçar da minha boca faziam clara gemer levemente..."Poka, moj lyubov..." meus dentes penetraram em seu pescoço fino e o sangue encheu a minha boca. Pude ver sua mente enquanto bebia daquele sangue vivo, mas não entrarei em detalhes. Sei lá porque diabos, mas não a matei...ela só desmaiou. Resolvi voltar com ela para a praça, carregando-a nos braços.

- Você fez a Clara desmaiar, Branquelo! - Paulo debochou.
- Essa garota bebeu demais. Nem pude aproveitar muito porque ela desmaiou - menti.
- Nossa, então você deve ser muito interessante, porque se fez ela dormir.... - Miguel disse.
- Está me desafiando? Venha e experimente você mesmo! - eu ri, para fazer-me de irônico, mas desejando mesmo que ele aceitasse.
- Não sou um viadinho, Branquelo!
- Ah, você jura? - olhei, com suavidade.
- Miguel, não perca essa chance! Aproveita e depois usa o álcool como desculpa. - Paulo piscou com um olho. Miguel ficou sem resposta.
- Ah, Paulo, deixe-o! Já está amanhecendo e eu tenho que voltar para casa antes que o meu tio desperte. - Despedi-me de todos, mas dando um beijo no rosto do Miguel e sussurrei ao seu ouvido "Quando quiser, é só pensar em mim e eu estarei esperando."

Creio que se passou uma semana, não sei ao certo, mas nesse meio tempo eu vi Miguel por várias vezes naquela praça com seus amigos. HAHAHAHA ele me olhava com curiosidade e desejo ao mesmo tempo. Ele queria muito experimentar o que eu tinha a oferecer... ah, e Clara estava recuperada, mas sob o meu poder, por assim dizer, pois experimentou um êxtase melhor do que qualquer droga poderia provocar. Creio que tenha dito isso aos amigos e, por isso, Miguel sentia essa curiosidade... queria saber como eu provocara aquele efeito em Clara. Uma noite eu decidi vasculhar por sua mente. Ele estava dormindo e tinha sonhos...interessantes... nos quais éramos protagonistas. Eu estava certo! Ninguém poderia resistir a mim.

Na noite posterior resolvi invadir seu quarto. Tal qual Drácula, em forma de névoa, adentrando o quarto da belíssima Lucy, entrei no quarto de Miguel - mas não me transformo em névoa. Isso foi a imaginação de Bram Stoker - tão suavemente como faria um predador à espera da presa. Caminhei até a sua cama, sem fazer barulho, enquanto a luz parecia um holofote sobre o corpo branco de Miguel. Ele, em sua cueca boxer vermelha, contrastava com o lençol claro.

- Miguel, você chamou por mim e aqui estou eu. - modulei a minha voz para que não passasse de um sussurro hipnótico. Ele se mexeu, abrindo um sorriso leve, como se eu ainda fosse um sonho e virou-se para a janela.
- Branquelo.... - sua boca vermelha se entreabriu e meu nome não passou de um suspiro. Beijei-lhe o rosto e depois seus lábios e, neste instante, seus olhos se abriram.
- Surpresa! - eu sorri de leve - Bons sonhos, não?
- Do que está falando? - ele franziu a testa, tentando parecer furioso, mas sem consegui esconder a surpresa e a alegria - Bons sonhos?
- Digamos que seu corpo dá sinais de sua alegria. - Apontei para sua cueca.
- ... não tenho como negar...
- Para que se contentar com um sonho, sendo que eu estou aqui?
- Você fala demais... mas me encanta!
- Eu sei disso! Sou o garoto dos seus sonhos.
- Branquelo... - ele me puxou para a sua cama e pôs a mão no meu rosto, olhando-me nos olhos. Ele estava tão distraído que nem reparou a cor diferente da minha íris.
- Você também fala demais, Miguel! - enfiei a mão na sua cueca, surpreendendo-o.
- Não sei de onde você veio, Branquelo, mas gosto da sua atitude.
- Eu vim dos seus sonhos, Miguel - não acredito que disse isso. Foi tão clichê! - Sou o inccubus que você desejou!
- Parece que você lê mentes, sabia?
- Sim, eu leio - ri, sabendo que ele nao acreditaria.
- Convencido! Eu...
- Cala a boca! - Beijei-o, enfiando a minha língua em sua boca. Minha mão deslizou pelo tórax magro, escorregando pela barriga. Sua pele se arrepiou. As bochechas se ruborizaram e suas mãos estavam levemente trêmulas.
- Você...me...excita... - ele tentava falar, enquanto minha língua preenchia sua boca.
- Posso sentir isso na minha pele e na minha mão, Miguel. - eu brinquei - Quero mais de você do que isso que eu tenho na minha mão. Ele me empurrou de leve, fazendo-me sair de sua boca.
- Tá dizendo que é pequeno?
- Não. Está o suficiente para satisfazer homens e mulheres....e creio que sabe usá-lo com destreza. Mas o que eu quero, é especial.
- Na porta dos fundos não, Branquelo! - ele riu.
- É mais especial ainda... - passei a mão pelo seu pescoço. - Dará, a mim, o que desejo?
- Você fala como um velho do século XVIII... é só pedir o que quer.
- Simplesmente não resista a mim...

Então fui passando a língua pelo seu pescoço, descendo cada vez mais, seguindo o caminho de grandes artérias.

- Tá doidinho pra chupar, né, Branquelo? - ele riu, debochando e empolgado com a idéia.
- Sim, mas não é o que você pensa! - Mordi sua coxa, bem em cima da sua artéria femural. O sangue preencheu a minha boca tão rápido que quase engasguei. Se há algum de você com um pouco de conhecimento, sabe que uma hemorragia nessa artéria é uma morte quase instantânea. Mordi meus lábios e fiz o meu sangue cair sobre o ferimento, fechando-o.
- O que... - Miguel estava desfalecendo.
- Shh! Não fale! - pus o dedo em seus lábios, silenciando-os - Tenho mais uma coisa antes de ir.

Então mordi-o no pescoço, somente o suficiente para que ele sentisse o êxtase semelhante ao provocado pela troca de fluidos, mas muito mais intenso. Depois derramei um pouco do meu sangue sobre o seu pescoço, para sumir com as marcas dos caninos.

- Miguel - disse em seu ouvido - agora você é meu! Será meu "boytoy" até que eu me canse de você. Quando você quiser ser meu, chame por mim como fez noite passada. Quando eu o quiser, você será meu de qualquer jeito!

Ao fim das minhas palavras, senti o cheiro do sêmen em sua cueca. Beijei Miguel dos pés à cabeça e sai, pela janela, do mesmo modo como entrei: como um Inccubus vindo de seus sonhos mais profundos.

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