quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Arthur


- Merda! Errei mais uma! - ouve-se os cascos de um cervídeo batendo contra a neve, esmagando-a.

Arthur, em um acesso de fúria, quebra sua flecha ao meio e senta-se num monte de neve fofa, pondo-se a pensar. Suas luvas rasgadas expõem os dedos brancos, como se o sangue estivesse congelado, juntamente com a sua capacidade de sentir algo que não fosse o instinto de sobrevivência.

- Eu estou ficando enferrujado ou os animais é que estão mais espertos? - riu-se com essa possibilidade, pois sabia de sua destreza com o arco - Acho que estou é cansado mesmo! Há 3 dias estou caminhando sem parar...

Arthur deitou-se na neve e lhe pareceu confortável. Ele já havia dormido em lugares piores. O som das coníferas soaram como uma canção de ninar e o aroma fresco das folhas o remeteu ao cheiro de sua própria mãe. Maldita lembrança! Ela o tornou tão frio quanto o gelo. Arthur viu sua mãe ser trespassada por uma flecha e nada pode fazer para salvá-la daquela flecha disparada por um assassino dos muitos que haviam por aí. Ela disse um "te amo", sorriu e logo em seguida morreu. Ah, como ele chorou naquele dia! Chorou até que toda a água de seu corpo se extinguisse. Ah, como o seu senso de justiça aumentou naquele dia! Deitado ali, na neve, relembrando tempos passados e sendo atormentado por lembranças que mais pareciam fantasmas, ele adormeceu.

O jovem Arthur parecia ter um senso anormal para o perigo e, ainda durante o sono, pegou a sua adaga presa à sua coxa. Sua expressão se tornou séria, quase como um tigre siberiano pronto a dar o bote. De olhos ainda fechados para aguçar a audição, ouviu os passos furtivos de alguém caminhando bem próximo a ele. Bastou abrir os olhos por um segundo e, com uma destreza élfica, lançou a adaga que cravou no olho do homem estranho, fazendo-o retesar-se em dor. Tal qual o próprio Thor, Arthur ergue-se com uma imponência e caminha em direção ao ferido.

- Péssima idéia tentar me roubar. - os olhos se tornaram opacos e inumanos - E de quem são essas outras coisas?
- Eles irão atrás de você, garoto. É melhor me matar porque senão meu olho vai custar a sua vida!
- Não vou te matar. Não sou assim! Vou deixar você ir...e leve até a adaga se quiser, mas sua vida não vai ser tirada por mim. - Arthur se distrai ao ouvir um burburinho ao longe. O homem aproveita e, de uma só vez, arranca a adaga cravada em seu olho, uivando de dor, mas ainda sim saindo em disparada pelo meio das árvores.
- Idiota! Danem-se você, seus amigos e seu olho! - Arthur não demonstrava preocupação com a ameaça do homem, mas aquele burburinho ao longe o incomodava imensamente.

Novamente foi tomado por uma sensação de perigo e seu coração se acelera, fazendo o rosto se corar e a adrenalina se torna o seu alimento. O arqueiro corre em direção aos gritos. A cada passo dado, os gritos se tornam mais claros, bem como a fumaça e as risadas. Os olhos de Arthur avistam o vilarejo em chamas, pessoas mortas e crianças chorando. Imediatamente seu punho se fecha no cabo da adaga suja de sangue, a boca arqueada para baixo e as grossas sombrancelhas se encontram. Uma vez mais, o rosto de um tigre furioso. Arthur, com a fúria de Thor enfrentando os gigantes, parte em direção ao centro do vilarejo.

- Humpf! Vocês são uns vermes! Posso sentir o cheiro vindo de vocês...esse cheiro podre característico dos que abusam dos mais fracos! Um urso é menos selvagem do que vocês! - Arthur bradava.

A adaga é lançada novamente, atingindo o peito de um dos assassinos. Uma sucessão de flechas, rasgando o ar, cai sobre o resto do bando de molestadores. Arthur viu um último ainda vivo e o considerou o mais cruel, mais ousado e o que merecia a pior morte de todas, pois o homem de aproximadamente 40 anos se encontrava sobre uma garota. Claro que ele tinha intenções de violar aquele corpo e profanar aquele templo imaculado. Arthur se atira contra aquele homem, arrancando-o de cima da garota com um violento chute na costela, que se partiram imediatamente. Uma saraivada de socos no rosto do homem e logo o sangue começou a escorrer.

- Não costumo bater em homens caídos, mas o que você tentou fazer não tem perdão. Sabe, vai ser até bom porque estou precisando relaxar e acertar seu rosto está me ajudando.

O homem não resistiu muito tempo, pois Arthur lhe fraturara boa parte dos ossos do crânio usando apenas os punhos furiosos. O jovem Arthur ergue-se exausto e ofegante, mas disposto a ver como está a garota.

- Tudo bem, garota? Ele chegou a fazer algo?
- Tudo bem, agora! Eu sou forte o suficiente para aguentar a chegada da cavalaria - ela sorriu.
- Melhor assim, não é? - Arthur vira-se para a garota.

Os longos cabelos ruivos, os olhos verdes e a boca vermelha com um sorriso estampado naquele rosto branco. Os olhos tão vivos e tão pacíficos, como se fossem o próprio mar. Por alguns instantes, Arthur se deu ao trabalho de admirar aquela garota. Por alguns instantes, ele se perdeu nos olhos doces dela. Aquele cabelo cor-de-fogo e o calor do seu sorriso fizeram com que o gelo derretesse dentro de Arthur e aquela pedra era novamente um coração.
Aquela garota deve ter derretido toda a neve ao redor, pois Arthur não sentia frio...não mais.

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