sábado, 13 de março de 2010

Além do Véu


Andros adormece às raízes daquela árvore, após conversar com seu anjo, até a profunda noite chegar. Quando abre os olhos, Andros percebe que o anjo não está lá mais.

Então, pela primeira vez, Andros regressa, decidindo voltar ao local em que plantou a rosa. Lá percebe que a rosa foi arrancada e que está novamente só, sente como se tivessem lhe arrancado o coração ou a alma.
Andros se senta ali, olhando fixamente para o local onde havia depositado sua esperança, que lhe foi arrancada por alguém.

As horas passam e Andros vê uma figura vindo ao longe, caminhando com dificuldade e lentamente. Após algum tempo, Andros percebe que quem se aproxima é uma criança, suando muito pelo esforço da caminhada.

- Quer água? Há muita água aqui por perto.
- ...
- O que há? Por que não responde?
- ... [gesto com as mãos]
- Não entendo!
- ... [sons aleatórios]
- Você não consegue falar não é? Não há problema. Pegue minha mão e me acompanhe!

Andros, com toda a paciência e cuidado, leva a criança à beira do rio e lhe entrega a água. Ela leva a água a boca, mas não consegue beber pois deixa cair, por ter movimentos imprecisos.

- Também não consegue beber água, não é?
- ...
- Eu te ajudo - Andros forma uma concha com as mãos, levando a água á boca do garoto, que de um gole só, sorveu todo o líquido.
- Puxa! Nunca vi alguém beber água tão rápido! Você estava com muita sede...deve estar caminhando faz tempo.
- ...
- Ah, me esqueci do seu problema.

O garoto dá um sorriso, como que agradecendo a ajuda e Andros compreende a mensagem, decidindo ajudá-lo mais. O garoto se apóia em Andros, revelando confiança e em troca, recebe todo o afeto de Andros.

Um dia...

- "É aqui que nos separamos, Andros!"
- Você fala?! Por que não me disse nada antes?
- "O que você está ouvindo não sai da minha boca. Você ouve a minha voz real, do meu verdadeiro 'eu'"
- Como é possível?
- "Nós criamos um vínculo e entramos em sintonia, por isso pode me ouvir. Não preciso dizer nada, pois você me compreende"
- Eu não sabia que...
- "Poucos sabem, Andros. Mas você se dispôs a me ajudar e por isso me conheceu além do meu corpo, além do véu que todos usamos. Você pode ver através dos meus olhos, pode ver o que eu sinto."
- Então...por isso seu sorriso mexeu tanto comigo. Eu o compreendi...não foi preciso dizer nada...eu o compreendi! Você me presenteou com algo que eu não posso tocar, mas que me fez mais feliz do que qualquer matéria poderia fazer.
- "Sim! Meu corpo físico é limitado, mas você aprendeu a conversar diretamente comigo, além da matéria e lhe sou grato por isso!"
- Mesmo com toda a sua dificuldade, nunca deixou de dar um sorriso espontâneo, nunca expressou uma mágoa sequer! Ensinou-me, indiretamente, a ver mais profundamente, a aceitar o que é diferente.
- "Adeus, Andros!"

Andros novamente está só, mas feliz...


*Post dedicado a um Anjinho, que se tornou muito especial em tão pouco tempo*

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